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Elio Migliorança

A cada 10 segundos

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O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, uma Organização Não Governamental, em parceria com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), criaram e instalaram em 2005, na sede da ACSP, o chamado “impostômetro”, um painel eletrônico que registra o total de impostos arrecadados no Brasil, somados aí os impostos municipais, estaduais e federais.

No último dia 3 de junho, acompanhei o painel e constatei que a cada 10 segundos o Brasil arrecada R$ 1.000.000,00 em impostos. Isso significa que a cada minuto são seis milhões de reais. É um número impressionante que ajuda a explicar muitas coisas.

Com esta arrecadação e um país bem administrado, poderíamos ter um país de primeiro mundo e proporcionar condição de vida digna para todos os brasileiros. Mas, infelizmente, não é o que temos. E a maior parte da nossa desgraça fica por conta dos políticos que temos. E aqui não cabe achar que só ao presidente da República cabe esta responsabilidade. Não, ela é de todos os políticos, começando pelas Câmaras de Vereadores e prefeitos, funcionários públicos em todas as esferas do poder, e depois, subindo, para governadores, deputados estaduais e federais, senadores, ministros e, por fim, o presidente da República.

Recente reportagem sobre a Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro revelou os criminosos esquemas de funcionários fantasmas que recebem sem trabalhar, sepultando milhões de reais no ralo da corrupção. Algo semelhante deve estar acontecendo em milhares de outras Câmaras de Vereadores. E na semana que passou foi revelado um dos milhares de esquemas de desvio de recursos através do não menos imoral “Orçamento Secreto”, artifício usado para desviar bilhões de reais.

Uma das revelações apontou uma empresa de Alagoas que comprava “kits de robótica” por R$ 2.700,00 em São Paulo e os revendia ao Governo do Estado de Alagoas por R$ 14.000,00 cada. Infelizmente, é apenas mais um caso somado a milhares de outros denunciados nos últimos anos, envolvendo todo o tipo de malabarismo para beneficiar interesses pessoais em detrimento do bem-estar de todos.

Embora muitos torçam o nariz para a Operação Lava Jato, ela revelou ao Brasil como funcionam as engrenagens da criminalidade e, pasmem, ao invés de perseguirem os corruptos, a ira se voltou contra os que denunciaram os esquemas de corrupção.

As recentes quedas de braço entre o Congresso Nacional e o governo federal são o sinal visível da luta pelo poder que visa o enriquecimento pessoal e o fortalecimento de grupos políticos que lutam para perpetuar-se no poder. Há uma frase de autoria do empresário e político paranaense Afonso Alves de Camargo Neto, falecido em março de 2011 aos 81 anos, dita quando ocupava o Ministério dos Transportes na década de 1990: “ muitas obras no Brasil são feitas, não pela necessidade da obra, mas pela comissão que recebe aquele que a executa”.

A espantosa arrecadação de R$ 1.000.000,00 a cada 10 segundos faz a arrecadação dos governos ser tão gigantesca que os corruptos buscam a qualquer preço um cargo para se beneficiar e beneficiar os apadrinhados, e com isso os brasileiros recebem cada vez menos em obras e serviços como contrapartida por aquilo que se paga de imposto.

Artigos como este e tantos outros não resolvem o problema, mas nos ajudam a refletir e a tomar consciência sobre os governantes que temos e nos alertam sobre a necessidade de acompanhar de perto as administrações públicas, cobrando dos candidatos que elegemos para que tenham uma conduta ética quando se trata do dinheiro público.

Nosso voto não pode valer um milhão, tem que valer um compromisso com a ética e a seriedade na vida pública.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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