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Tarcísio Vanderlinde

A cápsula do tempo da arqueologia

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Por já saber que a Pedra de Roseta não estaria ali para ser vista, não se viu também qualquer réplica ou referência àquele importante achado arqueológico que revolucionou o conhecimento do mundo antigo.

Um funcionário do museu do Cairo, ao comentar sobre o possível repatriamento de objetos arqueológicos descobertos no Egito e hoje espalhados em museus europeus, surpreendeu os visitantes com a observação de que os artefatos, talvez lá fora, estivessem melhor guardados de atentados contra obras de interesse cultural que costumam acontecer no Oriente Médio.

A história da Pedra de Roseta é recuperada pelo arqueólogo e teólogo brasileiro Rodrigo Silva. O teólogo considera a descoberta e a decifração do texto esculpido na pedra como um marco histórico da moderna arqueologia bíblica que começa ao final do século XVIII.

O objeto veio à luz durante a campanha militar de Napoleão no Egito (1798-1799). Napoleão tencionava transformar o Egito numa colônia francesa com o intuito de interceptar a rota comercial da Inglaterra com o Oriente. Embora seus objetivos não fossem alcançados, muitas peças relacionadas à história egípcia foram levadas para a França, o que provocou um ebulição acadêmica em torno da história do Egito Antigo.

Em meio aos objetos levados se encontrava uma placa de basalto com inscrições em três idiomas: hieróglifo, demótico e grego. O objeto havia sido encontrado no Delta do Rio Nilo, na cidade de Roseta (Rachid). Como espólio de guerra, acabou parando no museu Britânico de Londres.

O irônico nesta história é que coube a um francês o estudo e a interpretação do artefato que acabou se revelando como uma cápsula do tempo da arqueologia. Trata-se do filólogo poliglota Jean-François Champollion, que, no ano de 1822, adotou um procedimento que corriqueiramente se faz hoje ao utilizar as ferramentas do Google. Partiu do grego, idioma mais facilmente traduzível, e construiu a partir daí uma chave para o entendimento dos outros idiomas escritos na placa.

Foi fundamental Champollion descobrir que os três textos esculpidos na pedra tratavam do mesmo assunto. Era um decreto dos sacerdotes de Mênfis conferindo honras divinas a Ptolomeu V (195 a.C.). Descreve como os sacerdotes egípcios, em gratidão ao monarca que havia favorecido seu templo, o declararam deus e regente do Egito para sempre.

A descoberta acabou se tornando uma chave de acesso a pesquisas específicas por quem se interessa em se envolver, por exemplo, com estudos bíblicos específicos sobre o Êxodo e o tempo do cativeiro dos hebreus no Egito.

 

O autor é professor da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

 

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