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Tarcísio Vanderlinde

Começou numa caverna

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Como esboço, pode-se dizer que a história humana começou em uma caverna; a caverna que a ciência popular associa com o homem das cavernas e onde a descoberta prática realmente encontrou desenhos arcaicos de animais. A segunda metade da história humana, que era uma nova criação do mundo, também começa em uma caverna.

Há até mesmo uma sombra de tal fantasia no fato de que os animais estavam novamente presentes, pois era uma caverna usada como estábulo pelos montanhistas das terras áridas de Belém, que ainda conduzem seu gado a tais buracos e cavernas à noite.

Foi aqui que um casal sem-teto rastejou para o subterrâneo, com o gado, quando as portas das hospedarias lotadas foram fechadas em seus rostos, e foi aqui, sob os pés dos transeuntes, em um porão debaixo do piso do mundo, que Jesus Cristo nasceu.

Mas nessa segunda criação havia algo de fato simbólico nas raízes da rocha primitiva ou nos chifres do rebanho pré-histórico. Deus também era um Homem das Cavernas e também traçou formas estranhas de criaturas, curiosamente coloridas, sobre a parede do mundo, mas as figuras que ele fez ganharam vida.

Uma grande quantidade de lendas e literatura, que aumenta e nunca vai acabar, repetiu e provocou as mudanças nesse único paradoxo, que as mãos que fizeram o sol e as estrelas eram pequenas demais para alcançar as cabeças enormes do gado. Com base nesse paradoxo, podemos quase dizer que nessa brincadeira toda a literatura de nossa fé é fundamentada.

É, pelo menos, como uma brincadeira porque é algo que o crítico científico não pode ver. Ele explica laboriosamente a dificuldade que temos, sempre desafiadora e quase que exageradamente irrisória, e levemente condena como algo improvável, algo que temos quase que exaltado loucamente como incrível, como algo que seria bom demais para ser verdade, exceto que é verdade.

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Adaptado da obra “The everlasting man (O homem eterno)”, do escritor Gilbert Keith Chesterton (1874-1936). O livro foi publicado originalmente em 1925 como resposta a uma obra do escritor Herbert George Wells (1866-1946), o qual, a exemplo de Chesterton, pretendia traçar um panorama dos eventos relevantes da humanidade.

A crítica de Chesterton se pauta na opção literária de Wells, que desprestigiou o advento mais importante da história aceito no âmbito do cristianismo em suas diversas vertentes: a vinda de Cristo e o surgimento do cristianismo. VENITE ADOREMUS DOMINUM!

Cena parcial da cidade de Belém (Palestina) vista da periferia de Jerusalém (Israel). Em primeiro plano o “Campo dos Pastores”. De acordo com o evangelista Lucas, os pastores foram os primeiros a saber que algo extraordinário acabara de acontecer numa caverna do campo (foto do autor).

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

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