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Tarcísio Vanderlinde

Nem canônico nem herético

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O enunciado resume a melhor e mais objetiva avaliação sobre a produção cinematográfica The Chosen (Os escolhidos). Explicando: não é canônico porque não acompanha a literalidade dos textos evangelísticos, mas também não é herético porque não cria uma nova doutrina, e também não entra em contradição com as versões históricas consideradas como inspiradas por Deus.

De modo geral, a avaliação de críticos e expectadores tem sido positiva. Curiosamente o seriado se originou de uma “vaquinha” entre os que acreditaram na possibilidade de apresentar o Cristo numa forma mais adequada aos tempos pós-modernos.

De início, os idealizadores criaram uma plataforma exclusiva, onde os interessados tinham acesso a episódios gratuitamente. O sucesso estrondoso e até de certa forma inesperado fez com que The Chosen chegasse às telas históricas do cinema, sendo exibido também agora em outras plataformas.

Não é a primeira produção fílmica que se utiliza com sucesso das lacunas possíveis das escrituras para desenvolver um enredo original. Como exemplos, as produções clássicas “Bem-Hur” (1959) e “O quarto sábio” (1985), já fizeram isso com muita sensibilidade. Aos que se preocupam com possíveis excessos de “licença artística” no The Chosen, fica a permissão para pensar livremente nos diálogos e na vida cotidiana dos tempos de Jesus.

João, um dos escolhidos, que acompanhou o Mestre presencialmente, aparece na primeira temporada dialogando com Maria, mãe de Jesus. Enquanto dialoga faz anotações que se transformariam num dos quatro evangelhos. Ele havia percebido que era uma meta difícil registrar a totalidade resultante da rica experiência de ter convivido com Jesus. Naquele momento, além de escrever, a pedido do Mestre, ele estava honrando o mandato de cuidar de Maria.

Ao finalizar a narrativa, João escreveu: “Este (João) é o discípulo que dá testemunho destes acontecimentos e que os registrou aqui. E sabemos que seu relato é real. Jesus também fez muitas outras coisas; se elas fossem escritas uma por uma, creio que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos”.

A hipérbole, ou seja, o aparente exagero na forma com que João conclui a narrativa, apenas prova que Jesus fez muito mais do que consta nos evangelhos. O “mais”, que ninguém tem certeza, mas que pode ser plausível, acaba dando brilho às narrativas históricas sem contrariá-las.

Ambientado na aldeia de Cafarnaum, centro do ministério terreno de Jesus, as cenas do The Chosen capturam as lacunas permitidas nas narrativas. Os expectadores sentem-se cativados com a forma criativa de contar a história do Mestre. Através das plataformas de streaming as BOAS NOVAS alcançam os “confins da terra”.

O artista Jonathan Roumie no papel de Jesus no The Chosen. Acessável em: www.metropoles.com     

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

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