Tarcísio Vanderlinde
Silenciou o profeta
“Naqueles dias surgiu João Batista pregando no deserto da Judeia. Ele dizia: ‘Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo’”. É dessa forma que o evangelista Mateus começa a narrar o ministério do precursor imediato de Jesus. João Batista foi aquele que batizou Jesus.
As referências ao profeta também aparecem nos evangelhos de Marcos, Lucas e João. É João que retrata a resposta que Batista teria dado aos religiosos que o indagavam a respeito de sua missão: “Eu sou a voz do que clama no deserto: façam um caminho reto para o Senhor”. Já sobre Jesus, Batista esclarece: “Ele é aquele que vem depois de mim, cujas correias das sandálias não sou digno de desamarrar”.
De acordo com Eusébio de Cesareia, Herodes, o Jovem, mandou decapitar João Batista por este ter dado publicidade à reprovável atitude do rei em repudiar sua esposa, filha de Aretas, rei de Petra, e de ter casado com Herodias, esposa de seu irmão, enquanto este ainda vivia.
A atitude de Herodes foi entendida como uma desonra à família pelo rei de Petra e provocou uma guerra. Como resultado, o exército de Herodes foi totalmente desbaratado. O que se passou a falar é que o fato teria acontecido como colheita do atentado praticado por Herodes contra a vida de João Batista.
Nas palavras de Josefo, citadas por Cesareia, “para alguns judeus parece que foi Deus que desbaratou o exército de Herodes, fazendo-o pagar muito justamente pelo que fez a João, chamado o Batista”. Menciona ainda que em decorrência do episódio, Herodes foi destronado juntamente com Herodias e condenados ao desterro na Gália.
Cesareia observa que João era um homem extremamente justo, e que batizava confirmando assim o que foi escrito pelos evangelistas. Era um homem bom e que exortava os judeus ao exercício da virtude, a usar a justiça no trato de uns com os outros e da piedade para com Deus, e a aceitar o batismo.
De acordo com Cesareia, porém, não teria sido apenas o caso pontual envolvendo o casamento de Herodes e Herodias que teria levado à morte de João Batista. Na verdade, a popularidade de João entre os judeus começou a incomodar Herodes.
Temendo que uma tal força de persuasão levada a efeito por João sobre os homens poderia comprometer seus propósitos, em conluio com Herodias, resolveu antecipar-se mandando prender João, silenciando depois definitivamente a voz que o perturbava. Os historiadores eternizaram a atitude abominável.
Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.
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