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Tarcísio Vanderlinde

Conspirou contra o menino

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Amparado em fontes disponibilizadas por Flávio Josefo e secundariamente pelo historiador de nome Africanus, Eusébio de Cesareia narra a ascensão e morte de Herodes, o Grande, personagem controverso bem conhecido também pelas páginas da Bíblia.

A narrativa contempla especial atenção ao infanticídio determinado por Herodes, e ao final trágico de sua vida. De acordo com Cesareia, Herodes foi o primeiro rei estrangeiro a ser investido pelos romanos a governar os judeus. Era idumeu por parte de pai e árabe por parte de mãe.

Cesareia considera um desafio resumir em poucas palavras a cruel gestão do rei fantoche de Roma. Em destaque, as sucessivas calamidades domésticas que enevoou a suposta prosperidade de seu reino, como os assassinatos de sua mulher, de seus filhos e de outras pessoas muito próximas a sua família por parentesco ou amizade.

Em tudo Herodes via conspirações. O nascimento de Cristo ocorreu ao final de seu reinado.

Ante a pergunta dos magos do Oriente que queriam saber onde havia nascido o rei dos judeus, Herodes sentira-se perturbado. Assim que soube pelos seus assessores que a profecia de Miquéias indicava Belém como o local do nascimento de Cristo, ordenou a morte dos meninos da cidade e redondeza de dois anos para baixo, o tempo do nascimento de Jesus indicado pelos magos.

Nesta época, o menino-alvo de Herodes já estava em segurança no Egito. Citando Josefo, Cesareia registra que um flagelo divino o arrebatou e ele começou a morrer já desde o momento em que havia conspirado contra Jesus e os demais meninos de Belém: “A doença de Herodes fazia-se mais e mais virulenta. Deus vingava seus crimes”.

A doença de Herodes era complexa. Foi detalhada por Josefo e reproduzida por Cesareia: “comichão em toda a superfície do corpo, dores contínuas no ventre, edemas nos pés, inflamação do baixo-ventre e podridão verminosa de suas partes pudendas”, além de várias outras patologias.

Tentou sem sucesso diversas terapias buscando a cura. Pressentindo a morte iminente tramou uma última ação em Jericó já em estágio terminal. Mandou prender no hipódromo da cidade os notáveis da Judeia com intenção de matá-los assim que estivesse para expirar.

Sabendo que os judeus festejariam sua morte, com a execução dos sábios, teriam motivos reais de prantear no seu funeral, ainda que à força. Assim garantiria a solenidade desejável ao funeral de um rei. De acordo com Josefo, para a sorte dos notáveis e seus familiares, sua derradeira determinação não se cumpriu.

Muro das Lamentações em Jerusalém. O muro é remanescente do reinado de Herodes e foi construído à época da reforma do templo dos judeus em Jerusalém (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

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