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Elio Migliorança

A crise e o sonho

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A região Oeste do Paraná vive um pesadelo e o prenúncio de uma crise de consequências desastrosas para a economia regional e a sobrevivência no campo. Além da rasteira com a suspensão da importação de frango brasileiro pela União Europeia, vivemos um período de estiagem que coloca em sério risco a 2ª safra de milho, causando apreensão, redução de investimentos e incertezas quanto ao futuro do agronegócio paranaense.

Os investimentos feitos a partir da década de 1980 tornaram o Oeste do Paraná a maior região produtora de frangos do Brasil, gerando desenvolvimento, melhoria na qualidade de vida e superávit na balança comercial brasileira. Contudo, o ano de 2018 não começou bem. Somos vítimas da corrupção que manipulou resultados de exames laboratoriais que colocaram em dúvida a credibilidade da carne exportada. Parte da culpa cabe à classe política, que negocia nomeações em órgãos públicos, inclusive de fiscalização, colocando pessoas que jogam de acordo com o interesse dos partidos que as indicaram para os cargos e outra parte da culpa cabe à ganancia das empresas que manipulam para ganhar mercados sem atender às exigências dos compradores.

A estiagem que se abate sobre o Sul do Brasil traz à tona um tema já debatido e sempre em pauta quando o clima nos prega uma peça. Muitos produtores tiveram prejuízo na 2ª safra em 2017 mesmo colhendo 300 sacas de milho por alqueire. O prejuízo foi causado pelo alto custo dos insumos e a alta carga tributária incidente sobre os materiais utilizados no processo produtivo. Como a semente foi vendida a preços exorbitantes em 2017, neste ano muitos produtores viram na semente própria a única alternativa para baratear os custos e assim obter alguma sobra com a nova safra. Porém, o uso de semente própria não habilita o produtor a fazer seguro da safra e com isso, se houver quebra, haverá prejuízo que será arcado pelo produtor. A economia regional desacelerou já que todos aguardam o humor do clima para saber se haverá colheita ou prejuízo no final da safra. Este é o cenário de crise desenhado no horizonte produtivo regional.

O sonho a que nos referimos no título é que um dia o governo faça com a garantia da produção o mesmo que faz com o preço do petróleo. Hoje o petróleo segue os preços internacionais. Assim, se faz frio no outro lado do mundo, se o dólar sobe ou se Donald Trump levanta mal-humorado, os combustíveis sobem lá e cá. Nos países desenvolvidos, e não são poucos, os impostos são altos, mas em caso de frustração de safra o governo garante a remuneração do agricultor com base na média de produção dos últimos anos. Foi esta a novidade que vi nos países escandinavos em 2016 com relação aos agricultores e se no Brasil os impostos fossem bem administrados, com toda a riqueza que possuímos, o sonho seria possível, como retribuição aos impostos pagos o governo garantiria a remuneração do produtor rural em caso de frustração de safra. Nada mais justo para um setor que tem feito o dever de casa mantendo o superávit da balança comercial brasileira nos últimos anos.

Se os combustíveis são regulados pelo mercado internacional, temos o direito de almejar o padrão internacional nos quesitos eficiência, seriedade e respeito a quem trabalha e produz.

 

Elio Migliorança, professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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