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Elio Migliorança

AS CONTRADIÇÕES DE AGOSTO

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Tempo de campanha é oportuno para debater com os candidatos os projetos para o futuro dos municípios. O regime democrático no Brasil permite eleições livres e isso é bom, mas o sistema de governo, embora democrático, está centralizado na esfera federal, de onde sai o dinheiro para Estados e municípios. É aí que mora o perigo e o problema. Manobras legais permitem aos ministérios aplicar recursos em maior quantidade nos municípios governados por “companheiros”. Porém, dos recursos de transferência obrigatória, sobra uma parcela para investimentos. A aplicação destes é que deve ser cobrada dos candidatos a prefeito e vereadores, porque serão eles que decidirão as futuras obras. Paralelo à campanha política, agosto trouxe outras notícias que se mostraram contraditórias, porque foram divulgadas de maneira festiva como se fossem grandes conquistas, quando são, na verdade, um tiro no próprio pé. A primeira delas, o anunciado recorde de vendas de veículos novos em agosto. Crescimento acima de 15% em relação a julho.
Devia ter sido anunciado também de quanto por cento foi o crescimento nas obras de construção de novas estradas. Porque a continuar assim, o Brasil ficará entupido de carros. Reduzir o IPI sobre automóveis novos para incentivar as vendas pode provocar o efeito contrário. O povo está se endividando cada vez mais, estamos no centro de uma crise mundial, e se estes créditos começarem a virar inadimplência, será o momento de trocar aquela frase que consta em todas as cédulas de dinheiro onde diz “Deus seja louvado” para “Deus nos acuda”.

Reduzir o IPI para evitar demissões é bom, mas e como ficam os outros setores produtivos que empregam muito mais do que na área de automóveis? Que novas estradas estão sendo construídas ou duplicadas para dar conta do aumento de veículos em circulação? Basta transitar pela estrada que liga Cascavel a Capitão Leônidas Marques para entender o que estou falando. Enfrentar o movimento naquela estrada é uma aventura, e muito perigosa, por sinal.

Outra notícia festejada foi o recorde de exportação de milho em agosto. Outro tiro no pé. Aqui temos frangos morrendo de fome, o preço do milho está sufocando a suinocultura, a produção leiteira amarga prejuízos constantes, em certas regiões os armazéns da Conab estão vazios e nosso milho está indo embora. Quando o milho estava por aqui a R$ 14 o saco e o preço mínimo estabelecido pelo governo era de R$ 17, ninguém fez nada. O bom administrador guarda no tempo das vacas gordas para ter na época das vacas magras. Este é um dos papéis fundamentais de um governo. Ter estoque regulador. Estamos sendo castigados por uma nova seca, não sabemos o que virá no futuro, e o futuro da agropecuária depende da alimentação, no caso milho e soja. Ao invés de todas as forças do governo estarem voltadas para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, despejando milhões em obras para uma festa passageira, deviam estar investindo para garantir a sobrevivência do sistema produtivo nacional que projetou o Brasil como celeiro do mundo na produção de alimentos. Aquilo que vai ao estômago é mais importante do que a fantasia de uma partida de futebol que passa igual a fumaça.

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