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Tarcísio Vanderlinde

Bleib zu hause

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Não fosse pela produção fílmica intitulada “As crônicas de Nárnia”, a produção literária do irlandês C. S. Lewis (1898-1963) continuaria sendo conhecida no Brasil apenas em círculos restritos. Os contos que personificam as crônicas, normalmente vistos como fantasias, constituem na verdade parábolas com o objetivo de despertar a espiritualidade cristã.

Nestes dias apareceram alguns fragmentos de um dos livros atribuídos a Lewis. Um dos capítulos parece ter sido motivado à época pelo pânico mundial gerado pelo poder de destruição provocado pela bomba atômica sobre o Japão no ano de 1945:

“De certa forma, pensamos demais sobre a ameaça atômica. Como viveremos em uma era nuclear? Estou tentado responder: da mesma maneira que você teria vivido no século dezesseis, quando a praga visitava Londres quase todo ano, ou teria vivido como alguém no tempo dos vikings, quando saqueadores da Escandinávia poderiam chegar a qualquer momento e cortar sua garganta à noite.

[…] Em outras palavras, não comecemos a exagerar a novidade de nossa situação. Acredite, meu caro, você e todos a quem você ama já foram sentenciados à morte antes da bomba atômica ser inventada, e um alto percentual de nós morrerá de maneiras desagradáveis. De fato, temos uma grande vantagem sobre nossos ancestrais – analgésicos. De resto, é ridículo andar por aí choramingando e de cara abatida apenas porque os cientistas adicionaram uma nova forma de morte prematura e dolorosa em um mundo já povoado dessas maneiras e no qual a própria morte não é um risco, mas uma certeza.

Esse é o primeiro ponto a se destacar: a primeira ação a ser tomada é nos recompormos. Se formos todos ser destruídos por uma bomba atômica, que essa bomba, quando nos encontrar, nos encontre fazendo coisas sensatas e humanas – orando, trabalhando, lendo, ouvindo música, dando banho nas crianças, jogando tênis, conversando com nossos amigos […] – e não escondidos como um bando de ovelhas amedrontadas pensando sobre a bomba. Elas podem destruir nossos corpos, mas não precisam dominar nossas mentes”.

Lewis nos lembra que tanto no passado como no presente a condição humana continua FRÁGIL. Diante da expectativa da bomba não se podia fazer muito, contudo, com a atual pandemia, e com os recursos que hoje dispomos, é possível fazer muita coisa.

Se alguém ainda não entendeu o que é RESPONSABILIDADE, por exemplo, esta é uma ótima oportunidade para aprender. É preciso cuidar-se, mas é preciso cuidar dos outros também. Está ou esteve com “gripezinha” ou “febrezinha”? Não circule de forma IRRESPONSÁVEL. RESPEITE SEU PRÓXIMO.

Com exceções, nunca vimos tanta disposição em ajudar as pessoas com boas ações e informações. Temos oportunidade de não mais compartilhar mensagens inúteis, ofensivas, sem refletir, e nos SOLIDARIZARMOS num abraço virtual sem precisar sair de casa.

Enquanto seres humanos, temos oportunidade ímpar de sairmos melhor da situação do que quando fomos pegos por ela. Enquanto isso, podemos cantar juntos com os irmãos alemães: BLEIB ZU HAUSE – FIQUE EM CASA!

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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