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Elio Migliorança

Caravana da vergonha

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Ao pensar o título deste artigo surgiram duas opções aparentemente antagônicas que posteriormente revelaram-se semelhantes. Tanto um como o outro são a expressão do absurdo ridículo em que se transformaram algumas atitudes de políticos que empobrecem esta nação tanto moral quanto financeiramente.

Caravana da vergonha e caravana da solidariedade eram os títulos pensados, pois os integrantes da caravana querem mostrar solidariedade para que outros lhes sejam solidários quando chegar a hora deles pagarem os próprios pecados. Aliás, o número de congressistas processados quase justificaria mudar o nome do Congresso Nacional para Larapiolândia, salvando honrosas exceções de parlamentares que nos consolam com sua conduta ética. Mas, voltando à nossa caravana que produziu o primeiro capítulo no dia 10 de abril, quando nove governadores bateram com a cara na porta da Justiça Federal em Curitiba ao serem impedidos de visitar o “prisioneiro de Curitiba” que esperamos tenha bastante tempo para um exame de consciência sobre o que fez e o que poderia ter feito pelo Brasil e seu povo.

Esta caravana de governadores que viajou gastando dinheiro público deve, sim, ser chamada de caravana da vergonha, pois, com tantos problemas que cada um tem para resolver em seu Estado, perdeu tempo e gastou recursos preciosos para visitar um condenado hospedado numa pequena mansão se considerarmos o espaço que cada prisioneiro comum tem disponível nos cadeiões espalhados pelo Brasil, inclusive nos Estados dos perdulários que faziam parte da caravana.

Claro, nessa história alguém ganhou. Ganharam os hotéis e restaurantes de Curitiba, pois estes senhores vieram acompanhados de alguns bajuladores que não ficaram acampados em barracas, mas hospedados em hotéis classe A e com certeza não comeram marmitas, mas fartaram-se em restaurantes de nível superior.

Um lado positivo é que vieram conhecer uma cidade onde uma parcela do Judiciário funciona do jeito que deveria funcionar em todo o país.

A segunda caravana da vergonha fez-se presente em Curitiba na terça-feira (17), com o mesmo objetivo e composta por senadores componentes da Comissão de Direitos Humanos, uma prova da absoluta falta do que fazer ou desvio de função, pois, com tantos problemas no Brasil, gastaram nosso dinheiro para uma viagem patética como esta. Deveriam os senadores visitar os presídios nos Estados que representam e buscar para eles soluções, mas nós entendemos sua atitude. É uma demonstração de solidariedade com o prisioneiro para que no futuro, quando eles estiverem nas mesmas condições, possam contar com a solidariedade dos demais.

Condenar à prisão por corrupção alegando que outros também roubaram no passado é um absurdo tal que pode nos levar a concluir que se Pedro Alvares Cabral também roubou e não foi preso, teremos que oficializar a sacanagem neste país e legalizar a corrupção. As pessoas sérias e os verdadeiros trabalhadores, não aqueles que fazem parte do grupo da “vagabundização remunerada”, querem a punição exemplar de todos os corruptos, independente do partido ao qual estejam filiados, e isso inclui mesmo todos, pois uma pessoa que possui cérebro jamais vai defender a roubalheira.

miglioranza@opcaonet.com.br

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