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Tarcísio Vanderlinde

Cidade desolada

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Parte da produção histórica de Flávio Josefo é dedicada ao cerco e destruição da cidade de Jerusalém pelo exército romano no ano 70 de nossa era. Naquele momento, Josefo atuava como correspondente de guerra para os romanos. Descrevia a movimentação das tropas diante dos muros e, a partir de informações disponibilizadas por fugitivos, anotava o que se passava no interior da cidade.

Internamente, a desolação era provocada pela disputa de fações entre os próprios judeus. A externa, pela ação do exército de Roma.

Josefo descreve que os males que afligiam Jerusalém aumentavam cada vez mais. A fome potencializava o furor dos membros das facções que passaram a sentir-se envolvidos na mesma miséria que se abatia sobre o restante da população.

De acordo com Josefo, os cadáveres que enchiam a cidade e a contaminavam com seu mau cheiro não evitavam novos confrontos. “Havia mortos por toda a parte; pelas estradas, pelas ruas, não se podia passar sem ter que pisar nalgum cadáver”. A não ser que apenas retardavam os ataques, o espetáculo não causava qualquer atitude de compaixão entre os insurgentes.

As facções, depois de terem manchado suas mãos no sangue de seus próprios concidadãos, pensavam somente em lutar contra os romanos, numa guerra externa, e parecia que eles censuravam a Deus que adiava o castigo, pois não havia mais esperança de vencer; era, enfim, o desespero que lhes inspira tanta coragem e ousadia.

Fora dos muros ocorria uma devastação ambiental sem precedentes provocada pelo exército romano no intuito de repor no menor tempo possível novas plataformas de ataque contra a cidade. Com isso, devastou-se toda a região nos arredores de Jerusalém. Josefo conhecia bem aquele ambiente e deixou anotado que jamais aquela terra havia ficado tão desfigurada:

“Onde outrora havia bosques e árvores frondosas, jardins deliciosos, não havia agora uma única árvore, e não somente os judeus, mas os estrangeiros, que admiravam aquela formosa parte da Judeia, agora não seriam capazes de reconhecer, nem ver os maravilhosos arrabaldes daquela grande cidade, convertidos em terrenos abandonados e silvestres, sem que tão deplorável mudança não os fizesse derramar lágrimas”.

Conforme o correspondente, “o cerco romano e a guerra interna das facções levaram a uma situação desalentadora, provocando a destruição de uma região tão favorecida por Deus, que já não lhe restava o menor vestígio de sua beleza antiga e podia-se perguntar em Jerusalém onde, então, estava Jerusalém”.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

 

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