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Elio Migliorança

Dona Maria e a pista do aeroporto

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Dona Maria é uma pessoa simples, mãe de família, assalariada. Criou e educou de forma exemplar oito filhos e provavelmente nunca fará uma viagem de avião; significa que nunca vai voar. Desta forma, não acho justo que Dona Maria e milhões de outros anônimos que lutam para sustentar sua família, mas nunca vão voar na vida, tenham que contribuir para a ampliação da pista do aeroporto de Foz do Iguaçu, recentemente inaugurada e louvada como uma obra estratégica para o Sul do Brasil.

Que ela seja estratégica ninguém duvida. Sua importância para o país é inquestionável. O que se questiona é a forma como as pessoas são chamadas a contribuir, mesmo sem querer, para obras das quais nunca serão beneficiadas.

A obra custou R$ 53,9 milhões, dos quais R$ 43,2 milhões foram bancados pela Itaipu Binacional. A Itaipu Binacional produz e vende energia. Agora virou construtora de obras. Nada contra que construa obras, desde que não tire o nosso dinheiro para fazer aquilo que não é sua função.

Concluída a ampliação, a pista foi vendida junto com o aeroporto. Não usaram a palavra venda, mas concessão por 30 anos, que depois se renova e assim por diante, e o resultado da venda não foi devolvido a quem ajudou a pagar a conta, mas vai para o caixa do governo e dali em diante ninguém sabe onde vai parar.

Além da pista do aeroporto, Itaipu está construindo uma ponte ligando o Brasil ao Paraguai, vai construir o contorno em Guaíra, a duplicação do Contorno Oeste em Cascavel, a revitalização da Ponte Ayrton Senna, a duplicação da Rodovia das Cataratas, a Estrada da Boiadeira entre Porto Camargo e Umuarama, além de parques, casas e reformas em estruturas de segurança pública. Tudo muito bonito e legal, se a conta não estivesse sendo colada sobre o lombo do sofrido trabalhador, que já paga impostos sobre veículos e combustíveis para todas estas obras.

O governo, na sua criatividade perversa, achou uma nova fonte de renda: lança na fatura de energia elétrica, e aí todos pagam. Mesmo quem nunca vai usar um aeroporto ou uma ponte. É por isso que nos últimos anos a energia elétrica se tornou a maior despesa na agricultura, na indústria, comércio e aos consumidores em geral.

Quando a Itaipu foi construída, mentiram pra nós e a mentira se perpetua, governo após governo. Naquela época disseram que a região Oeste teria tarifa diferenciada como compensação pelo impacto ambiental, que afetou todo o sistema produtivo. O clima mudou, o ciclo das chuvas enlouqueceu e nós nunca tivemos benefício algum na fatura de energia elétrica. Agora, com a Itaipu praticamente paga, com nosso dinheiro lógico, ao invés do lucro reverter em desconto no valor da energia, os bilhões da Itaipu são direcionados para obras, que não é a função de uma empresa produtora de energia elétrica.

O atual governo prometeu que abriria a “caixa preta” da Itaipu. Não abriu, e pior, pagamos uma fatura cada vez mais cara.

Aí surgiu uma opção legal. Produção de energia fotovoltaica, energia solar. Agora o governo estuda cobrar imposto sobre o uso do sol. Ou todos os políticos são farinha do mesmo saco ou haverá alguém que nos defenderá e fará justiça. Se Itaipu tem dinheiro sobrando, que a energia seja vendida a preços decentes, e assim terá valido a pena o investimento que fizemos, pago por todos nós.

 

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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