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Elio Migliorança

E a revolução se fez

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Durante muitos anos, analistas políticos, filósofos, sociólogos e jornalistas rotularam o povo brasileiro de apático, desinteressado, alienado político e passivo demais. Entidades, meios de comunicação e pensadores não mediram esforços para incutir nas pessoas o senso crítico e cidadania responsável. Dizia-se que somente um choque ou uma revolução poderiam mexer com a passividade nacional e fazer a população tomar uma atitude. No último domingo (28) a revolução se fez. E veio em forma de tsunami eleitoral, elegendo um quase “Dom quixote de la Mancha”, um cavaleiro solitário que levantou uma bandeira e se lançou a uma aventura para conquistar o mundo.

O início da trajetória do presidente eleito Jair Bolsonaro para pavimentar sua candidatura presidencial foi mais ou menos assim, tanto é que no período das convenções várias pessoas convidadas para o cargo de vice dispensaram o convite, não lhe restando outra opção do que um general da reserva. Filiou-se a um partido quase inexistente, não tinha mais do que oito segundos no horário eleitoral e durante parte da campanha foi considerado um candidato folclórico e extremista.

Ao longo dos anos tenho afirmado que as redes sociais quebraram o monopólio da comunicação que no passado era controlada por algumas redes de comunicação no Brasil, de tal forma que as informações chegam aos quatro cantos do país sem conhecimento da grande mídia. E foi este um dos pilares da propaganda do candidato Bolsonaro, as redes sociais. Elas democratizaram a política porque permitem o contato direto do candidato com o eleitor. Mas não considero este o fator primordial da sua vitória. O brasileiro estava cansado e exausto da velha política tradicional, que, mesmo se alternando no poder, como vimos desde a Constituição de 1988, afundou o Brasil na mais grave crise econômica e ética da história da República.

Os brasileiros estavam fartos da corrupção endêmica e aterrorizados pela criminalidade crescente. O Congresso era composto por uma coleção de partidos corruptos de aluguel, cujos integrantes se locupletavam do poder e se autoconcediam mordomias e privilégios, uma afronta ao brasileiro que trabalha, paga impostos e recebe quase nada do Estado. Ressalvam-se aqui raras e valiosas exceções de políticos comprometidos com o país e com a ética no exercício do seu cargo. Foi uma rasteira do eleitor para uma classe política desgastada, mentirosa e que não cumpria com as promessas de campanha – aqui também ressalvada a eleição de algumas raposas peludas que ainda mancham a política nacional.

Bolsonaro fala não apenas o que o povo quer ouvir, mas consegue verbalizar o que seus eleitores gostariam de dizer, ao falar de corrupção, falta de segurança, classes que se privilegiam com mordomias, gratificações e aumentos salariais incompatíveis com a situação nacional e inaceitáveis quando somos testemunhas de milhares de mortes por falta de assistência médica adequada na rede pública. Assim como o sol nasce para todos, justos e injustos, o tsunami eleitoral foi impiedoso e varreu do mapa bons e maus políticos do Legislativo e Executivo nos Estados e no Congresso Nacional, e a cereja do bolo foi a eleição de Bolsonaro. Se a decisão foi correta ou equivocada, só o tempo vai dizer, e quem viver, verá.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

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