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Elio Migliorança

EU NÃO FAÇO PARTE

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Desde a posse dos novos prefeitos em 1º de janeiro somos informados diariamente sobre o estado catastrófico em que se encontram as prefeituras do Brasil. Parque de máquinas sucateado, finanças arrebentadas e patrimônio público em situação falimentar. É o que temos lido, visto e ouvido nos meios de comunicação. Mas, se fizermos uma regressão mental para janeiro de 2009, ficaríamos surpresos ao verificar que as notícias daquele período eram praticamente as mesmas de agora. E se voltássemos para janeiro de 2005 ou para janeiro de 2001, seríamos novamente surpreendidos, ao verificar que a cada quatro anos é denunciada a situação apocalíptica dos municípios. É aí que está o problema. Quando o prefeito assume, com aquela cantilena de “arrumar a casa”, faz questão de mostrar que está assumindo um patrimônio estilo “terra arrasada”. Com isso valoriza o seu trabalho e dá a entender que ele ou ela é o salvador da pátria. Mas quando termina o seu mandato e o próximo assume, a situação, o discurso e as imagens repetem o que foi dito quando ele ou ela assumiu.  Mas, eu não faço parte daquela parcela da multidão que acredita em tudo o que ouve e logo esquece. Guardo recortes de jornais e vídeos onde posso conferir o que foi dito na posse daquele que agora entregou o mandato. Eu não faço parte daqueles que se deixam manipular pela esperteza dos que fabricam notícias, mas vou conferir se a atitude dos que assumiram é realmente de austeridade, ou tudo não passa de uma manipulação da opinião pública. Eu não faço parte daqueles que jogam no lixo os planos de governo distribuídos na campanha eleitoral. Guardo-os e confiro ao final do mandato para saber quais promessas foram cumpridas e quais foram “esquecidas”. Talvez muitos prefeitos estejam colocando na prática o que escreveu Gustave Le Bon, em seu livro “Psicologia das Multidões”, publicado em 1895, o qual, referindo-se à relação candidato/eleitor, afirma, entre outras coisas, o seguinte: “o eleitor quer que adulem suas ambições e vaidades, o candidato deve cobri-lo de extravagantes bajulações, não hesitar em fazer-lhe as mais fantásticas promessas. Diante dos operários nunca é demais injuriar e difamar os patrões. O programa escrito do candidato não deve ser muito categórico, pois mais tarde seus adversários poderão cobrá-lo. As mais importantes reformas podem ser prometidas sem medo. Esses exageros produzem muito efeito de momento e não comprometem a nada no futuro. Na realidade, depois o eleitor não se preocupa de modo algum em saber se o eleito cumpriu a profissão de fé aclamada, em torno da qual a eleição supostamente ocorreu”.

Os únicos municípios onde não se ouviram as lamentações de praxe foi onde o prefeito se reelegeu. Também, era só o que faltava. Se os prefeitos realmente encontraram o patrimônio público destruído, devem fazer uma perícia com pessoal especializado e formalizar a denúncia junto ao Ministério Público, pois existem leis para punir tais atitudes. Dívidas em aberto, licitações fraudadas ou nomeações ilegais devem ser levadas à Justiça. E se isso não for feito, então é sinal de que tudo não passou de um teatro para impressionar a opinião pública.

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