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Elio Migliorança

MEIO DIA PERTO DO FIM

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São 07h40 do dia 05 de março, uma terça feira. O local é a Rua Souza Naves, no centro de Cascavel. Ali estão localizados inúmeras clínicas especializadas, laboratórios e centros de atendimento médico, onde o mais conhecido de todos é o Centro de Oncologia de Cascavel (Ceonc). É ali que centenas de pacientes se encontram a cada dia em busca de uma esperança.
A primeira cena que chama a atenção é a fila das ambulâncias. São muitas e de todos os tamanhos. Muitos municípios adaptaram ônibus para esta finalidade. Outra curiosidade é a placa dos veículos. Impossível citar todas as cidades. Do Paraná chegam do Norte, do Oeste e do Sudoeste. Mas também chegam do Oeste Catarinense e de várias cidades do Mato Grosso do Sul. Formam-se filas para identificação e encaminhamento. Alguns já conhecem a rotina, e sabem o lugar onde devem aguardar para serem atendidos. Todos chegam cedo, mas muitos serão atendidos ao longo do dia, e aí começa um período de longa espera. Na redondeza, lanchonetes que atendem estes novos clientes que chegam de longe. No ar a sensação esquisita que faz incorporar na gente a dor e a angústia de cada um que chega na esperança da cura. Para muitos motoristas apenas a rotina do trabalho diário. Para muitos pacientes é a verdadeira porta da esperança, aguardando ansiosamente a palavra do médico dizendo que o tratamento terminou e que você não tem mais nada. Para os que buscam os resultados dos primeiros exames a angústia da espera do resultado. Para alguns as suspeitas se confirmaram e há uma doença para combater. Notícia triste para o doente e os familiares.
Alguns ainda estão no amanhecer da vida e já precisam enfrentar esta batalha. Parece que o mundo do microcosmos não leva muito em conta esta questão da idade, ataca onde e quando tem possibilidade. Alguns fumando na fila de espera. É contraditório, mas quem sabe as razões e a necessidade? Quem não está na fila não sabe qual é o sentimento. Do outro lado da mesa estão recepcionistas e secretárias, desdobrando-se para atender a todos gentilmente. E por detrás das portas, os médicos que se esforçam para encontrar a melhor solução para cada caso. Tarefa nada fácil. Para muitos pacientes é o começo do fim. É neste momento que percebemos como algumas coisas com as quais nos preocupamos na vida deixam de ter sentido. Quantas prioridades tornaram-se ridículas diante da nova realidade que a doença apresenta. Quantos sonhos e projetos de vida são sepultados ali e surge um novo sonho, único e muitas vezes impossível: recuperar a saúde.
De todas as idades, há sempre um olhar de esperança no horizonte. Alguns saem do consultório radiantes, a luta acabou, o medicamento venceu a doença. Foi só por meio dia, mas estar ali, perto do fim do caminho para muitos daqueles, foi um momento para avaliar prioridades, e o tema sugere pensar em que lutas e projetos você está investindo seu tempo e seu dinheiro e se isso vale realmente a pena. Ali se conclui o quanto é necessário investir mais para atender a todos com dignidade, e o quanto é criminosa a corrupção que desvia dinheiro destinado à saúde pública.

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