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Elio Migliorança

MURILOS

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Com todo o respeito às pessoas de nome Murilo, neste texto resolvi aplicar seu significado ligado à história do casal que vai em lua de mel para a China e hospeda-se numa pousada sobre a grande muralha. Ao retornar daquela paradisíaca viagem, o casal descobre que a viagem rendeu uma gravidez. Muito gozador, o marido resolveu batizar o menino com o nome Murilo por haver sido concebido em cima do muro. Questionado sobre a possibilidade de nascer uma menina, prontamente respondeu que o nome seria então Muralha. Na semana anterior à Páscoa, descobrimos que o Paraná está cheio de Murilos. Não gente que nasceu, mas gente que está em “cima do muro”, e, pior, não deveria estar lá. Estava em discussão no Paraná uma PEC (proposta de emenda constitucional) visando acabar com a vergonhosa aposentadoria vitalícia para ex-governadores. O painel mostrou que 24 deputados votaram a favor, 12 contra e 13 ficaram em cima do muro, não votaram nem contra e nem favor, simplesmente abstiveram-se de votar. E como não podia deixar de ser, havia quatro gazeteiros que não estavam na sessão. Pois bem.

O tema é relevante. Não tem como ficar neutro num debate destes. Mesmo que eu não consiga entender os que são a favor, respeito sua decisão. Mas que é duro de engolir isso é. Afinal, o trabalhador tem que dar duro, suar a camisa durante 35 longos anos para depois receber uma aposentadoria que vai encolhendo ao longo dos anos graças a um artifício de cálculo muito malandro chamado fator previdenciário.

Como aceitar que um ex-governador se aposente com quatro anos de trabalho, com nove meses ou até com 30 dias de trabalho como existe no Paraná, e cada um recebendo R$ 24 mil mensais? É justo isso?

Se alguém acha que depois de exercer o cargo não consegue sobreviver sem aposentadoria, então que não se meta. Não se candidate. Fique longe disso. Será que os deputados que votaram a favor, quando em campanha disseram para os seus eleitores que aprovariam tal projeto? Ou o discurso foi em defesa dos pobres, dos trabalhadores, dos injustiçados, dos descamisados e daqueles que não têm voz e nem vez? Ou ainda gritaram em praça pública dizendo que a constituição declara que somos todos iguais perante a lei.

Esta aposentadoria, além de ser uma afronta aos trabalhadores, mostra que alguns são mais iguais que os outros. Os que são contra também respeito. Pessoalmente acho que é um sinal de lucidez ser contra. Mas voltemos aos “Murilos”. Nós elegemos os deputados porque achamos que possuem condições de nos representar e votar por nós. Estão ganhando para tal. Ficar em cima do muro é um jeito de acender uma vela para Deus e outra para o diabo. Não se comprometer com o eleitor e nem desagradar aos poderosos. Fatalmente acabei lembrando-me de uma frase bíblica, no livro do Apocalipse, cap.3 vers.15 e 16: “conheço as tuas obras, que não és nem frio nem quente; oxalá foras frio ou quente; mas porque és morno, nem frio nem quente, estou prestes a vomitar-te de minha boca”. Pois é, senhores da lei, quantas pessoas que trabalharam a vida inteira amargam a tristeza de sentir-se desamparados no país que ajudaram a construir.

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