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Tarcísio Vanderlinde

Não foi pouca coisa

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Um passeio pela cyber teia permite o pesquisador constatar a existência de grupos religiosos que ainda não tomaram conhecimento sobre o que se tem falado de Martinho Lutero, principalmente a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II, ocorrido nos anos de 1960. Para esses grupos, ainda presos às discussões teológicas do século XVI, Lutero continua sendo visto como herege.

Em audiência com representantes evangélicos da Finlândia ocorrida durante as celebrações dos 500 anos da Reforma, ao evocar uma celebração conjunta realizada anteriormente, o papa Francisco declarou: “A intenção de Martinho Lutero, há 500 anos, era renovar a Igreja, não dividi-la”. Não se trata de uma declaração qualquer. Todavia, Francisco também tem opositores na igreja que governa.

Não diferente de nós, Lutero foi servo de seu tempo. Contudo, ele foi capaz de fazer uma autocrítica que, seduzida hoje por um Anti-Evangelho, poucos ainda têm coragem de fazer. Sabe-se disso pelo hábito que Lutero tinha em escrever. Quando percebeu, por exemplo, que aqueles que simpatizavam com sua causa passaram a ser chamados de “luteranos”, ele se opôs com veemência: “Peço que meu nome seja calado e que ninguém se chame luterano, senão cristão. Quem é Lutero? Pois se a doutrina não é minha! Eu também não fui crucificado por ninguém”.

É bastante conhecida também a expressão na qual se considera um “pobre e fedorento saco de vermes”.

Apesar de ter legado textos polêmicos, a causa de Lutero emergiu de uma preocupação pessoal com sua existência e acabou trazendo benefícios para toda a cristandade. Com algumas questões sociais e teológicas, ele teve limites, mas ninguém poderá dizer que seu empenho em traduzir e popularizar os escritos bíblicos foi pouca coisa.

Seu trabalho de tradução o coloca ao lado de outros tradutores consagrados, como Úlfilas, Eusébio Jerônimo, ainda durante a antiguidade, e John Wycliffe, 200 anos antes de Lutero entrar em cena. Guardadas as limitações da época, o trabalho de Lutero contou com os benefícios decorrentes da invenção da imprensa, e é avaliado pelo historiador Martin Dreher como sendo “uma importante penetração de um meio de comunicação de massa no tecido social de então”.

Não se ignora que, ao se traduzir ou compartilhar, a palavra pode ser manipulada, materializando-se em atitudes que podem se revelar totalmente contrárias ao Evangelho. Após Lutero, outras traduções importantes se sucederam. Hoje minorias étnicas pelo mundo estão sendo alcançadas pelo texto bíblico em seu próprio idioma.  Apesar dos percalços, conhecer a integralidade do texto bíblico continua sendo uma aventura que vale a pena.   

 

O autor é professor da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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