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Tarcísio Vanderlinde

Nem sempre houve conflitos

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Nem sempre houve conflitos entre o Israel histórico e os povos com os quais se limitavam ou conviviam. Ao final do reinado de Davi, o reino de Israel entrara numa era de paz e prosperidade. O período se consolidou com o governo de Salomão (970 a.C. – 931 a.C.). Seu reinado seria marcado pela construção do primeiro templo de Jerusalém.

Contudo, a execução da obra só se tornaria possível com a disponibilidade de matéria-prima e de mão de obra especializada existente no reino vizinho de Tiro (Líbano), governado por Hirão. A amizade com Hirão já vinha do período da governança davídica e permaneceu durante a fase salomônica.

A construção do templo é descrita em detalhes pelo historiador Flávio Josefo em “Antiguidades Judaicas, livro oitavo”, que, de modo geral, acompanha a narrativa do Tanakh (Antigo Testamento).

A fama dos construtores de Tiro aparece em carta que Salomão enviou a Hirão nos preliminares da edificação. Nele ele pede para que se envie alguns obreiros para junto com operários israelitas cortarem no monte Líbano a madeira necessária para a construção: “pois nenhuns outros, ao que se diz são tão hábeis nisso como os sidônios, e eu os pagarei como voz agradar”.

Em resposta, Hirão combina detalhes do transporte da madeira até Jerusalém e a forma de pagamento, no caso, uma “partida de trigo, de que sabeis termos falta nesta ilha”. Josefo observa que além de “mil medidas de trigo”, Salomão enviou também medidas generosas de azeite e vinho, o que fez com que “a amizade desses dois reis aumentasse ainda mais e durasse para sempre”.

Entre os trabalhadores que vieram de Tiro havia um especialista em lidar com metais. Segundo Josefo, era um “artista admirável” e era xará do rei de Tiro. Entre seus trabalhos coube a fundição das duas colunas de bronze a serem colocadas na entrada do pórtico do templo. É curioso perceber que o costume de se levantar colunas deste tipo ainda se mantém em templos e outros locais de encontros culturais ou religiosos nos dias atuais.

Preocupado com a fidelidade de sua narrativa, Josefo instiga o leitor a consultar as fontes originais ainda disponíveis em sua época e comparar com seu relato: “o que eu julguei dever dizer para dar a conhecer que nada acrescento à verdade e que o desejo de tornar a minha história mais agradável não me faz misturá-la com coisas que não são verossímeis”.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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