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Elio Migliorança

O IDIOTA E OS HERÓIS

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Herói segundo o dicionário é: “nome dado pelos gregos aos grandes homens divinizados. Aquele que se distingue por seu valor ou por suas ações extraordinárias principalmente por feitos brilhantes durante a guerra”. Passei 35 anos ensinando isso aos meus alunos nas aulas de História. Agora estou me sentindo meio idiota por aquilo que ensinei. Estamos em tempo de Copa do Mundo, o embalo nacional é visível, e fazendo coro com a euforia popular o governo enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional que prevê auxílio mensal, leia-se aposentadoria, de até R$ 3,4 mil e mais um prêmio de R$ 100 mil aos jogadores que participaram das Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970, por serem, segundo o projeto, “verdadeiros heróis nacionais”. Pela proposta, tanto os titulares quanto os reservas poderão receber os recursos do governo, aliás recursos do governo uma ova, nossos recursos, nossos impostos. Segundo o projeto, no caso de falecimento do atleta, os familiares receberão o benefício.
E os tetra ou pentacampeões foram menos importantes? E os que participaram das demais Copas do Mundo, segundo o princípio da igualdade perante a lei, não poderão reivindicar judicialmente o mesmo direito? Afinal, por que pagar uma aposentadoria àqueles jogadores? Foram obrigados a ir para a Copa? Sessenta dias de jogos e uma aposentadoria vitalícia? Era isto uma guerra em que eles defenderam a honra do país? É o que dá a entender o projeto quando diz que estes foram heróis nacionais. Heróis uma banana, brigaram para ir e foram bem pagos para tal.
Estranho porque a cada final de mês o governo faz questão de divulgar o déficit da Previdência Social. São sempre bilhões. Faz os aposentados sentirem-se culpados pelo rombo da Previdência. Dá a impressão que os aposentados são os culpados pelo atraso nacional. Contudo, ninguém divulga o valor das super aposentadorias concedidas nos altos escalões da República, nem se tem conhecimento de alguém que tenha devolvido dinheiro dos milionários golpes aplicados contra a Previdência Social. E onde ficam aqueles heróis nacionais que trabalharam durante 35 anos, recolhendo para a previdência sobre dez salários-mínimos e hoje amargam uma aposentadoria de apenas 2,5 salários-mínimos?
E como ficam as demais categorias esportivas que brilharam no “podium” em significativas competições mundiais conquistando o ouro para o Brasil, não tiveram acaso o mesmo heroísmo?
E o que dizer dos pesquisadores que descobriram medicamentos para a cura de doenças evitando a morte de milhares de pessoas? Não merecem antes uma gratificação?
O governo está quase conseguindo me fazer odiar o futebol, embora seja uma paixão nacional. Penso em comprar uma camisa da seleção Argentina e torcer para os “hermanos” ou para os vizinhos paraguaios ou até a azul celeste do Uruguai. Claro, os defensores do governo vão dizer que isso é uma “mixaria” para a economia do país, e eu diria que de mixaria em mixaria vamos aumentando o déficit público e teremos que pagar cada vez mais impostos para manter estas excentricidades gestadas num momento de “pane” do bom senso. 

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