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Elio Migliorança

Pausa quase impossível

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Debates acalorados entre os grupos de direita e esquerda dão a impressão que o mundo virou um ringue de luta livre, onde não sobrou espaço para que se tenha consciência de que a vida está passando e centenas de milhares de pessoas vão sair desta pandemia com espaços vazios que nunca serão preenchidos. São 300 mil seres humanos que se foram com a pandemia, familiares que deixaram um vazio enorme, uma saudade que será mais latente nos dias da próxima semana.

Os cristãos celebram a Páscoa na próxima semana. E de repente me dei conta de quanto esta data era aguardada e preparada com carinho pelas famílias e pela comunidade num passado recente. A pandemia alterou toda esta normalidade. Perdemos o controle que acreditávamos ter sobre nossas vidas. As igrejas tiveram que alterar as programações que na semana santa dos cristãos celebram a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Celebrações estas que representam um riquíssimo patrimônio cultural e religioso, momento alto de fé e espiritualidade.

Foi preciso curvar-se à necessidade de proteger a vida e a saúde de seus fiéis, e assim as celebrações contarão com a presença de poucas pessoas e a simplificação dos ritos para atender as normas da saúde pública e evitar novos contágios pelo vírus. Talvez seja um momento muito oportuno para atender ao apelo da saúde pública que está implorando para que fiquemos em casa, mas especialmente nesta semana, ficar em casa espiritualmente.

É aí que surge o desafio da pausa quase impossível. O que significa isso? Pausa no uso das mídias sociais e no contato com os costumeiros grupos de WhatsApp. Uso do celular e redes só para as coisas essenciais e o que for estritamente necessário.

Uma semana para refletir sobre o que vivemos no último ano, com todas as coisas que fomos obrigados a aprender para conviver e sobreviver nesta pandemia.

De que forma me comportei na família e na comunidade diante de tantos desafios e imprevistos? Se alguém muito próximo morreu, será oportuno perguntar, por que ele ou ela e não eu? A continuidade da vida me reserva ainda uma missão a cumprir ou foi um mero acaso da natureza? Cultivei minha espiritualidade ou aproveitei as restrições impostas pela saúde pública para afastar-me de Deus e da minha comunidade? Ou, pior, aproveitei o momento para disseminar notícias falsas ou para levar vantagens indevidas nos meus negócios? O que eu fiz ou poderia ter feito para contribuir com o desafio enfrentado pela minha cidade ou pela minha comunidade?

Sabemos que Jesus, sabendo que seria entregue para o sacrifício da cruz, várias vezes retirou-se para orar. Este é o desafio do fique em casa espiritualmente. Este é o desafio da pausa quase impossível. Aproveitar para fazer uma boa reflexão sobre o rumo para o qual está caminhando a minha vida e pensar sobre o que eu gostaria de fazer ante a possibilidade de ser também vítima deste vírus mortal. Aproveitar o tempo que ainda temos para realizar aquilo que julgamos importante ser feito, oportunidade que certamente muitos dos que morreram não tiveram.

Vivemos um tempo de isolamento e angústia diante da incerteza do futuro. Saiba que há muitas pessoas no mundo morrendo por falta de um pedaço de pão, mas há muita gente morrendo por falta de um pouco de amor. Faça sua parte. Feliz Páscoa.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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