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Elio Migliorança

Pelo desarmamento

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Enquanto o mundo pega fogo com o desequilíbrio do clima, demonstrado no relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado na segunda-feira (09), o mais importante divulgado desde 2014, mostrando de forma inequívoca que o aquecimento global está se desenvolvendo mais rápido do que o esperado e que chegamos ao ponto de quase “não retorno”; enquanto em Tóquio os atletas do mundo quebravam sucessivos recordes encantando o planeta, enquanto no Brasil de forma apaixonada se discute a volta do voto impresso, do mimeógrafo a álcool e do orelhão para telefone; enquanto o ministro da Educação defende que a universidade seja para poucos e o Congresso Nacional discute o retrocesso político com o nome de “Distritão”, muitos brasileiros estão morrendo nas estradas do Brasil.

Aqui um paranaense morre a cada três horas nas rodovias do Estado. O que é classificado como “acidente”, na maioria das vezes, deveria ser classificado como assassinato ou suicídio, se levarmos em conta a forma como muitos motoristas dirigem. Só nas últimas duas semanas nossa região contabilizou mais de duas dezenas de vítimas fatais no trânsito. Um número assustador e imagens aterradoras de corpos dilacerados e famílias destruídas pela insensatez e direção criminosa.

Enquanto a legislação cada vez mais rigorosa nos países desenvolvidos reduz as vítimas no trânsito, no Brasil uma legislação leniente com os infratores trata de forma branda os criminosos do trânsito, que pagam fiança e são postos em liberdade, ou esticam o processo com sucessivos recursos e no fim a impunidade acaba prevalecendo.

O apelo ao “desarmamento” – título deste artigo – não se refere exatamente às armas de fogo, embora elas sejam perigosas no trânsito, mas aqui trata-se de outro desarmamento. É preciso desarmar o espírito violento e, ao sentar na “boleia”, bloquear qualquer tentação de revidar às agressões ou barbeiragens no trânsito. Levar na esportiva e dirigir de forma defensiva pode ser a melhor arma para chegar em casa e bem.

Diante de uma afronta ou insulto, desarmar o instinto violento de “pagar com a mesma moeda” e recuar freando ou dando passagem aos apressados que acham serem os únicos com pressa ou com problemas para resolver.

Desarme-se da arrogância pelo fato de ter um carro melhor que os demais e respeite aquele que está no trânsito, mas não consegue andar em velocidade igual ao seu potente veículo.

Desarme-se do preconceito contra as pessoas mais idosas, que, muitas vezes, andam mais devagar justamente porque com o tempo as pessoas tornam-se mais prudentes e querem dirigir de forma segura para não correr riscos e não colocar os outros em risco.

Seja gentil com carros de outras cidades; os motoristas destes não possuem a mesma prática de quem mora ali, mas estão ali dando lucro para o comércio local.

A bem da verdade, muitas rodovias deixam a desejar em termos de segurança, mais um motivo para desarmar-se da estupidez de que você é “bom de braço” e pode andar na estrada como se estivesse numa pista de corrida.

Nunca se esqueça que o melhor motorista não é aquele que chega antes, mas, sim, aquele que chega. Perante a lei dos homens o assassino do trânsito pode até ser inocentado, mas um dia a justiça divina vai colocar tudo em pratos limpos. Pense nisso.

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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