Fale com a gente

Elio Migliorança

Ponto de flexão

Publicado

em

Um objeto por mais sólido que seja tem um grau de flexão mesmo que sejam poucos milímetros. Objetos mais flexíveis vão ceder mais, mas se exagerarmos pode causar uma ruptura. Uma das mais importantes ações judiciais das últimas décadas está no seu ponto de flexão mais crítico desde que iniciou em 2009. Os movimentos de velhas raposas políticas, a maioria já denunciada e uma multidão de políticos citados na delação da Odebrecht, estão montando um esquema gigantesco que pode fazer naufragar a Operação Lava Jato, aquela que acendeu nos brasileiros a esperança de que o Brasil seja passado a limpo. Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados foram citados e provavelmente estão envolvidos, pois os citados em delações anteriores, todos viraram réus. O senador Edison Lobão, envolvido até o pescoço na Lava Jato, ser presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado é um desrespeito aos cidadãos de bem deste país. Entre os membros da comissão estão dez investigados pela Lava Jato. A cereja do bolo neste movimento descarado foi a indicação de Alexandre Moraes para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Um senador declarou que esta indicação é absurda e outro disse que é a esculhambação da República.

Em três anos de investigações o STF até agora não condenou ninguém, comprovando que os tribunais superiores são superiores em tudo menos em Justiça. É mais um passo para a partidarização dos tribunais superiores, que nos últimos anos se tornaram depósito de políticos fracassados, aqueles que, via de regra, não conseguem se reeleger e são nomeados para cargos vitalícios, quando, na verdade, estes cargos deveriam ser ocupados por membros do Judiciário e do Ministério Público após passarem por todas as instâncias da carreira e promovidos por merecimento.

E nesta costura safada estão envolvidos todos os partidos, pois um projeto em tramitação na Câmara e com apoio da maioria propõe a anistia para os partidos que não prestarem constas do fundo partidário, dinheiro público que é distribuído aos partidos e que ultrapassa um bilhão de reais. Um absurdo o tal fundo partidário, que devia ser extinto, pois cada partido que se organize e se sustente, assim como deveria ser erradicado da legislação o tal foro privilegiado.

A blindagem de Moreira Franco pelo presidente Temer é motivo para o povo tirar as panelas do armário e fazer Brasília ensurdecer, mas estranhamente ninguém se manifestou. Enquanto isso, passear em Vitória (ES) está fazendo mal à saúde; a Capital virou uma praça de guerra, mas a cena mais chocante foi da população saqueando uma loja. Que povo é esse que assalta e rouba só porque a polícia não está na rua?

Outra falácia é o governo jogar a responsabilidade de tudo sobre a polícia. Onde fica a responsabilidade dos governos estaduais, que ao longo dos anos dilapidaram os recursos públicos e achataram o salário dos policiais ao ponto de muitos deles não conseguirem mais sustentar sua família?

Vivemos um tempo em que Estados foram quebrados por imprudência e desleixo dos governadores. Enquanto a polícia ganha mal, há nas esferas superiores dos Estados supersalários e superaposentadorias, um câncer que precisa ser enfrentado, pois sem isso dificilmente teremos futuro.

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente