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Elio Migliorança

RESIGNAÇÃO

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O maior fenômeno da atual campanha política chama-se pesquisas eleitorais. Objeto de muitas manobras no passado, quando os resultados apontados não se concretizaram, o Congresso aprovou uma lei obrigando os institutos registrarem as pesquisas junto à Justiça Eleitoral para serem publicadas. Não importa se a pesquisa favorece o candidato A ou B, acontece que o registro da mesma nos Tribunais não garante sua lisura. E o tema já gerou muitas discussões. O que observo é a resignação pura e simples da maioria dos eleitores diante das pesquisas, como se a eleição já tivesse acontecido e o resultado já estivesse decidido. Tanto na esfera estadual como federal. As pessoas estão reagindo como se nada mais houvesse a fazer. Como se a eleição já tivesse passado. Parece que os institutos de pesquisa recolheram nosso título eleitoral e estão votando por nós.
Quem garante a lisura destas pesquisas? Quanto dinheiro e quantos interesses há por detrás destes números?
E muitas vezes a forma como a notícia é publicada pode induzir a pensar uma coisa, mas quando paramos e analisamos o que está escrito é possível concluir o contrário. Veja por exemplo a notícia publicada neste jornal, no último sábado (03), na coluna “ponto de vista”, ao falar do comício em Foz do Iguaçu, com a presença do presidente Lula e do governador Pessuti. O colunista escreveu: “A presença do presidente Lula e do governador Pessuti arrastaram cerca de 15 mil pessoas  na noite de quinta-feira… Lula mais uma vez mostrou o porquê de sua popularidade chegar a quase 100%…”.
Verifiquei nos dados do IBGE de 2009 que Foz do Iguaçu tinha 325.137 habitantes. Considerando a população de Foz, faltaram somente 310 mil naquele comício para atingir 100%. Não entendi como a presença de 15 mil pessoas é garantia de tal popularidade. E, convenhamos que devem ter vindo pessoas dos municípios da região, portanto menos ainda de Foz do Iguaçu.
Saindo deste tema, há outro fato perante o qual é proibido resignar-se. Temos a obrigação de protestar para fazer valer a lei e a honra. É a utilização da Receita Federal para fins políticos. O direito constitucional do sigilo fiscal foi violado, dados sigilosos estão sendo pirateados da forma mais vergonhosa para utilização política, uma prática inaceitável numa democracia. O abuso de poder é a própria essência da tirania. E pior, disse o ministro da Fazenda que a lista dos que tiveram informações “pirateadas” é muito maior. Por muito menos que isso o 37º presidente dos Estados Unidos – Richard Nixon – renunciou. Bastou um consultor do comitê da campanha de reeleição do presidente confirmar que o presidente sabia da instalação de escuta no comitê de campanha do Partido Democrata. Aqui as pessoas estão aceitando isso com a maior naturalidade, como se fizesse parte do jogo democrático. Esta é uma visão equivocada do que é democracia.
Como é que a Receita espera que os cidadãos sejam honestos em suas declarações, se no futuro elas podem ser utilizadas contra o próprio declarante?
Como aqui já se instalou a prática do “ninguém sabe, ninguém viu”, é bem provável que a culpa acabe caindo sobre o pobre estagiário que recolheu o material do cafezinho.

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