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Elio Migliorança

UMA ESPIADA E UM SUSTO

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A recente declaração do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, qualificando como medieval o sistema prisional brasileiro, acrescentando que se fosse para cumprir uma longa pena em um presídio brasileiro, preferia morrer, causou espanto e ao mesmo tempo deu a impressão de que o ministro está vivendo na ilha da fantasia. Aliás, Brasília é, de certa forma, a ilha da fantasia, porque lá o dinheiro brota abundante como se fosse produzido nas moitas de capim.
Na verdade, o que aconteceu é que a possibilidade concreta do “amigo” José Dirceu frequentar por um tempo a “pensão da dona justa” levou o senhor ministro a dar uma espiada na área interna do sistema prisional brasileiro e levou um baita susto. Ficou tão chocado que acabou declarando isto publicamente. É necessário informar com urgência ao senhor ministro da Justiça que o sistema prisional do país é responsabilidade do seu ministério. E que se a coisa está tão feia assim é porque ao longo de muitos anos ninguém fez o dever de casa, isto é, administrar o sistema prisional para que os presídios cumpram suas funções principais que são de punir e reeducar os condenados. E não apenas quando um figurão ou vários “amigos do rei” estão prestes a ir para lá é que as autoridades devem se preocupar com o que vão encontrar.
Diante desta reação, surgiu uma boa ideia. Se cada vez que uma autoridade, ex-autoridade ou um “grande amigo” de um figurão vai para algum lugar, isto motiva uma melhoria no ambiente, considero uma contribuição enorme ao povo brasileiro, criarmos algumas leis, daquelas que “vão pegar”, isto é, que sejam de cumprimento obrigatório. A primeira devia ser ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Todas as autoridades, municipais, estaduais e federais, políticos e assemelhados, devem ser atendidos para tratamento médico via SUS. Aí com certeza haverá uma corrida, a começar pelo ministro da Saúde, para melhorar o atendimento naquele setor. Nada de Albert Einstein ou Sírio Libanês. SUS neles. Com certeza o susto seria grande. E nada de tratamento privilegiado. Enfrentar fila, pegar senha e esperar pelo atendimento. Os quartos acabaram? Cama no corredor mesmo. Em curto espaço de tempo o tratamento seria vip.
A segunda devia ser ligada à educação. Filhos de políticos e autoridades deveriam cursar o Ensino Fundamental e Médio em escolas públicas. Outro susto. Mais uma corrida para investir em qualidade e com certeza em cinco anos teríamos uma educação de fazer inveja.
A terceira seria o trânsito. Nada de helicóptero. De carro mesmo e sem escolta, sem batedores, sem fechar ruas. No meio de todo mundo, bem no estilo de José “Pepe” Mujica, presidente do Uruguai, que anda de Fusca para cima e para baixo. Com certeza haveria uma corrida para investir em infraestrutura e dar condições de segurança a quem trafega nas cidades e nas estradas do Brasil. Talvez como sugestão adicional, nas cidades maiores, onde há transporte público urbano, o prefeito e os secretários municipais irem de ônibus para o trabalho, e quando se atrasarem, ter suas horas descontadas. Pode ser que não mude tudo de uma vez, mas que daríamos um salto de qualidade em curto espaço de tempo, isso é tão certo quanto o nascer do sol de amanhã.

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