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Dom João Carlos Seneme

“Sereis minhas testemunhas”

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A Palavra de Deus deste domingo (02) tem como tema central o silêncio de Deus e o seu aparente afastamento dos acontecimentos da vida humana e o desafio da fé. Quantas vezes os salmistas lamentaram o silêncio de Deus! O mesmo silêncio que Jesus experimentou na cruz: “Meu Deus, por que me abandonastes”? Contudo, a certeza da presença de Deus, mesmo nos momentos em que Ele se cala, revela a fé autêntica que desafia os fatos.

A súplica dos apóstolos “Aumenta a nossa fé”, no texto de Lucas no Evangelho (Lc 17,5-10), exprime muito bem a situação da Igreja depois da Páscoa: uma comunidade marcada pelas dúvidas e incertezas sobre a Palavra de Deus, pelo cansaço e insucesso da missão.

A resposta de Jesus salienta o paradoxo: de um lado está a fé comparada a uma “semente de mostarda”, de outro lado aparecem a grandeza e a força de uma árvore (amoreira) que não pode ser arrancada. Nessa comparação, Jesus quer dizer que nada, absolutamente nada, é impossível à fé autêntica que é capaz de fazer coisas jamais pensadas pelo homem. Ela não pode ser medida pelo tamanho (amoreira), mas pela autenticidade (pequena semente) que realiza o milagre.

A parábola sobre o patrão e o servo, que aparece em seguida, ilustra o sentido da fé. A parábola não quer identificar o relacionamento Deus-homem como uma interação patrão-escravo e nem mesmo afirmar que a ação humana não significa nada diante de Deus. A parábola quer reafirmar que o homem que faz exigências diante de Deus se apoia em si mesmo e não confia em Deus.  

A característica da fé autêntica é apoiar-se unicamente em Deus e não nas próprias forças. Sair de si e ir ao encontro do outro. A fé que Jesus espera de seus discípulos é uma atitude de confiança em Deus, permitindo que ele manifeste seu amor e misericórdia. Não é algo excepcional. Essa atitude é possível e está ao alcance de todos.

Podemos imaginar que Jesus tenha dito estas palavras aos seus discípulos quando estava para enviá-los em missão. Diante das dificuldades poderiam se assustar e deixar-se intimidar porque não se sentiam preparados e fortes suficientemente. Parecia impossível levar a mensagem de Jesus adiante. É neste momento que Jesus lhes assegura que com a fé eles poderiam enfrentar a indiferença e o desinteresse do mundo. Nos momentos mais difíceis devemos confiar em Deus. Ele sempre age e vem em nosso socorro. Deus está perto mesmo quando parece tão distante.

Hoje iniciamos o Mês das Missões e do Rosário. Na missão encontramos o sentido de nossa existência como batizados. Deus nos chama para fazer tudo o que está ao nosso alcance para anunciar o evangelho. Temos consciência de nossa fragilidade e limitação, mas o que garante o êxito da missão é a ação do Espírito Santo. “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”.

A fé que desejamos é anseio do ser humano e dom de Deus. Coloquemo-nos de joelhos e peçamos com os apóstolos: “Senhor, aumenta a nossa fé”! Dá-nos que possamos crer; dai-nos um coração de quem crê principalmente nos momentos de dificuldade!

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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