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Elio Migliorança

NÃO GOSTAVA, MAS DEFENDO

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Tantas coisas aconteceram nos últimos dias que merecem reflexão e uma análise crítica pelas consequências que provocarão na vida das pessoas, mas não resisti ao apelo da consciência para fazer uma reflexão sobre o golpe aplicado no regime democrático que o Paraguai reconquistou depois de tantos anos de ditadura. Confesso que não gostava da forma como o presidente Fernando Lugo tratava determinadas questões que nos dizem respeito. Primeiro foi o Tratado de Itaipu que ele não respeitou e exigiu a revisão antes do seu vencimento. E isso nos custou muito caro e ainda vai custar porque serão muitos milhões de dólares anuais a serem pagos além do que estava contratado. Outro motivo era o tratamento dado aos brasiguaios, nossos irmãos brasileiros que viviam em estado de permanente tensão e medo de perder todos os seus bens por conta de invasões promovidas pelos “campesinos”, a versão paraguaia dos sem-terra brasileiros. Da mesma forma que ocorre por aqui, lá também tais grupos são protegidos pelo Poder Público, e, se não são protegidos, no mínimo as autoridades fazem vistas grossas às invasões, criando este clima de permanente conflito e instabilidade. Mas o presidente Lugo foi democraticamente eleito, tirando estas questões que me incomodavam, não havia denúncias de corrupção e malversação do dinheiro público. Não consta que tenha inventado um mensalão para comprar apoio do Congresso Nacional e talvez aí esteja o fio da meada para entender o processo de cassação. Cassar um presidente da República em menos de três dias é uma afronta ao sistema democrático. Não se pode calar diante de um fato assim sob pena de voltarmos aos tempos golpistas na América do Sul, tempos de triste memória e trágicas consequências. 
Não gosto “nadica de nada” do cocaleiro Evo Morales, mas daí a querer sua destituição do poder vai uma distância muito grande. Se o povo da Bolívia o elegeu, temos que respeitar a vontade da maioria. Esse é o preço que se paga no sistema democrático. Mesmo caso então do Paraguai. Será necessário que os governos dos países integrantes do Mercosul tenham uma postura firme e exijam o retorno do presidente legitimamente constituído em respeito à vontade da maioria. A atitude firme de alguns governantes ordenando que seus embaixadores deixem o país é uma atitude corajosa e acertada. Foi um golpe parlamentar. Inaceitável em todos os sentidos. Nós estamos iniciando o processo de escolha dos candidatos a prefeito no Brasil. É natural que o resultado das eleições não agrade a todos. Mas se este é o processo de escolha que queremos, e creio ser o melhor, temos que respeitar o resultado e, uma vez alguém eleito, contribuir para que faça o melhor pela comunidade, pois todos ganham com isso. A forma como Fernando Lugo deixou o poder engrandeceu sua biografia, pois, ao invés de conclamar o povo a ir às ruas e protestar, resolveu lutar pelos meios legais sem provocar luta armada no país. Se os motivos alegados pelos congressistas paraguaios para aprovar a cassação fossem aplicados por aqui, teríamos um presidente a cada 60 dias.  

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