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Cascavel tem a maior lavanderia industrial sustentável do Brasil, onde cada gota d’água conta

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Lavanderia gera 150 postos de trabalho em 3 turnos, 365 dias/ano

A lavanderia industrial entre as mais sustentáveis do Brasil pode ter começado no entorno de uma vaca. O animal sagrado em países como a Índia aparece em pelo menos três momentos que antecederam a criação da lavanderia industrial Gota D´água.

O médico veterinário Jairo Frare e seu colega de ofício agrônomo Humberto Tanamati, especialistas em genética bovina, prestaram longos anos de serviço para o oncologista e pecuarista Reno Paulo Kunz, do Ceonc. Certa ocasião, relata Frare, o doutor do Ceonc manifestou sua contrariedade com a falta de opções de qualidade para lavar os enxovais hospitalares em Cascavel, onde o mercado das lavanderias estava monopolizado.

“O Reno até cogitou montar uma estrutura para atender o Ceonc, mas diante dos custos iniciais muito elevados e sistema complexo, preferiu continuar tercerizando”, relata Jairo Frare, que admite: ficou com aquilo na cabeça.

O veterinário andava exausto da rotina de seu ofício, que o obrigava a atender presencialmente um raio de mil quilômetros, de Uruguaiana (RS), chegando ao Noroeste de São Paulo até o Chaco paraguaio. “Cheguei a rodar 13 mil quilômetros em um único mês”, disse.

Aqui entra a segunda vaca: a vida na estrada trazia riscos: “Em três ocasiões, dirigindo meu carro, acordei de frente para caminhão. Em outra quase atropelei uma vaca”, relata Frare. Antes que a vaca virasse zebra, em meados de 2012, o veterinário conversava com o colega de ofício Humberto e, “do nada”, sugeriu: “vamos montar a lavanderia sustentável e de qualidade que o Reno pediu?”.

A barreira de entrada era realmente elevada: foram aportados inicialmente R$ 8 milhões. “Se fosse para montar algo, não poderia ser de qualquer jeito, tínhamos que ter os melhores equipamentos na melhor estrutura”, disse Frare, profissional conhecido pelo perfeccionismo.

Meticulosos, os sócios fundadores Frare, sua irmã Ivone Guerra e Humberto montaram um plano de negócios detalhado. Eles sabiam desde o início que o ponto de equilíbrio era um número distante: 15 toneladas de roupas lavadas por dia.

E para chegar neste estágio muita água precisaria passar pelas estações de trabalho e máquinas de última geração que chegavam ao custo meio milhão de reais cada. A largada foi boa, embora as operações tenham começado em uma data explosiva: 11 de setembro.

O ano era 2014. Antes de o Papai Noel descer as paredes do Copas Verdes, naquele primeiro ano de operações, já havia 13 clientes. Hoje a Gota D’água atende mais de 90 empresas, entre hospitalar, hotelaria e indústria e gera 150 postos de trabalho entre diretos e indiretos, lavando mais de 17 toneladas por dia.

A TERCEIRA VACA

A terceira vaca na trajetória dos empreendedores da lavanderia surgiu quando Frare atendia o amigo agropecuarista e industrial da construção civil Jadir Saraiva de Rezende. A conversa girava no entorno da rotina de genética e embriões com o rebanho do Jadir quando este perguntou: “O que é esse panfleto na sua mão?”.

Frare carregava consigo um impresso da lavanderia para prospecção de novos clientes. E ao entregar o ainda protótipo para Jadir, foi logo “intimando”: “Venha ser parceiro nosso no negócio”.

Isso foi numa sexta à tarde. No dia seguinte Jadir, o dono das vaquinhas, já era o quarto sócio do empreendimento, levando consigo um aporte relevante para o negócio e também o nome de excelente reputação no mercado. A lavanderia mais sustentável do país agora já somava R$ 12 milhões aportados pelos sócios.

“CADA GOTA INTERESSA”

Os sócios da Gota D’água tinham límpida e insípida clareza do insumo fundamental para viabilizar o negócio. E ele, o insumo, está no nome da empresa: água. Então a comitiva foi a São Paulo conhecer os empreendimentos que referenciavam o setor em que estavam ingressando.

Jairo Frare tinha convicção que podia fazer algo melhor do que viu por lá. E o caminho para viabilizar a operação passava por gestos de muita atenção com o meio ambiente e otimização dos insumos. A reutilização da água somada ao aproveitamento do conteúdo que São Pedro envia gratuitamente com uma gestão ambientalmente correta seriam o manancial que distinguiria a Gota Dágua e também a tornaria viável economicamente.

Humberto, Ivone, Jairo e Jadir, quarteto que dirige a Gota D’água, uma das maiores
lavanderias sustentáveis do país

O local escolhido para as instalações, nas imediações do Aeroporto de Cascavel, área de manancial que envia aguadas para a bacia do Rio Iguaçu, precisava receber todos os cuidados e se tornar autossuficiente na matéria-prima. “Se comprássemos água da Sanepar e mesmo bancando o tratamento, descartássemos na rede coletora de esgoto da estatal, a operação estaria economicamente inviabilizada”, diz Frare.

Então surgiu o poço artesiano, o sistema de reproveitamento de 100% da água utilizada e as estruturas de absorção da água da chuva; 80% da água tratada volta para a lavanderia e 20% é utilizada em irrigação de pastagem das vaquinhas da raça Brahman. Complementam o kit verde da Gota D’água os mil módulos fotovoltaicos sistema de energia solar limpa e renovável capaz de aliviar em R$ 40 mil mensais a conta da Copel.

Operando 365 dias por ano, rodando 24 horas por dia em três turnos, a estrutura enxuta e ecológica da Gota Dágua atraiu grandes empresas aderentes às práticas ESG, acrônimo para práticas corporativas com ênfase no social, governança e ambiental.

Entre as empresas que levam a sério as práticas ESG e se tornaram clientes da Gota D’água estão alguns dos principais players regionais na hotelaria, como a rede Mabu, e complexos hospitalares como o Costa Cavalcanti e o Padre Germano, de Foz do Iguaçu, Ceonc, São Lucas, Gênesis, Gastroclinica e Policlínica, em Cascavel e o Bom Jesus, de Toledo, entre vários outros da região Oeste do Paraná.

Lavado, passado e certificado

A biomassa, proveniente da queima da madeira é uma das fontes de energia usada na lavanderia Gota D’água. A fonte é usada na caldeira a vapor, utilizada na secagem e produção de água quente.

Como compatibilizar uso da madeira com certificação verde? Para tudo se dá jeito quando se aplicam as melhores práticas ambientais de gestão. A madeira de eucalipto vem rastreada do reflorestamento, ou seja, um manejo ambientalmente sustentável. E até mesmo as cinzas são utilizadas em processo de compostagem para adubação.

Eventuais excedentes da matéria-prima principal, a água, também são reutilizados em processos de irrigação. Todo e qualquer outro resíduo, como plástico e papelão, é direcionado para associação de recicladores.

Aqui a vaquinha ameaça voltar novamente, já que um ditado popular na turma do sítio diz que “da vaca só não aproveita o berro”.

A CERTIFICAÇÃO

Os cuidados com a economia circular, somados à capacitação permanente e respeito com recursos humanos, a lida ambiental e suas complexas ramificações foram colocadas à prova recentemente.

Uma Instituição Acreditadora Credenciada (IAC) habilitada pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) praticamente “acampou” no interior da lavanderia para auditar mais de 800 requisitos e ao final conceder o tão desejado selo de acreditação. Segundo o superintendente técnico da ONA, Péricles Cruz, a certificação de uma organização de saúde através da acreditação é um reconhecimento que a instituição atende aos rigorosos padrões que a metodologia exige.

“Estamos muito satisfeitos com a acreditação, pois demonstra a dedicação e o compromisso de nossa instituição com as entregas acordadas com nossos clientes. Nosso desafio não terminou, continuamos a trabalhar para desenvolver e implementar ações de melhorias contínuas, visando atender e superar a expectativa dos nossos clientes”, disse Jairo Frare.

Aqui se fecha o ciclo da água boa: lavado, passado e certificado. Cascavel sedia a lavanderia industrial mais sustentável do país. O “Selo Verde” coroa este dito. Olhando para os enxovais ou olhando para o processo como um todo para lavá-los, ou ainda observando o entorno e o meio ambiente, dá para dizer sem medo: na Gota D’água, tá limpo!

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Pé-vermelho na Fiep

Cascavelense Edson de Vasconcelos é o novo presidente da Federação das Indústrias do Paraná, a maior entidade empresarial do Estado

Quando o líder empresarial Edson de Vasconcelos (foto) anunciou que disputaria a presidência da poderosa Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), as reações presenciais foram de tapinha nas costas, mas de alguma incredulidade nas conversas reservadas.

Afinal, nós aqui do fim da estrada, como era chamada Foz do Iguaçu no momento histórico que tinha Cascavel como distrito, sempre tivemos dificuldades para ter voz e vez nos principais centros de decisão do Paraná.

Tanto assim que elegemos um único governador, ainda assim por ter ascendido da condição de vice, e um único senador, também investido do cargo a partir da suplência.

A tímida participação do Oeste na liderança das principais entidades de classe do Paraná é contrastante com uma das melhores qualidades deste povo: o associativismo.

Aqui está sediada a tida e havia como maior entidade municipalista do Brasil, a Amop. Aqui está a considerada maior entidade de micro e pequenas empresas, a Amic, para ficar em apenas dois exemplos.

A vitória expressiva de Vasconcelos para presidir a Fiep nos próximos quatro anos é um divisor de águas. O engenheiro é fruto do associativismo, com passagem marcante no Sinduscon e Acic, além de participação ativa na fundação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Cascavel.

Cobra nascida e criada aqui, pé-vermelho legítimo, Vasconcelos reúne todas as condições para representar com dignidade e excelência não apenas os industriais paranaenses, como também, e principalmente, levar os aprendizados da cultura associativista oestina para os canais decisórios da Capital paranaense.

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Primeira mesquita

Comunidade árabe anuncia a construção de um centro cultural islâmico em Cascavel, incluindo a primeira mesquita

Os sobrenomes anunciavam quem eram os anfitriões: Najib, Fayad, Gazzaoui, Simeão… já os convidados podiam ser descendentes de poloneses, como os Gurgacz, italianos como Roman, Pitol, Grolli, Bonacin e Rotta, além de outras tantas descendências no mosaico étnico que forma Cascavel.

Projeto do Centro Islâmico vem de Dubai pelas mãos do engenheiro Hamaoui
Ibrahim Fayad, com Pitol e Dilvo, foi um dos anfitriões

O encontro precedido de um almoço típico árabe foi além de anunciar a primeira mesquita de Cascavel. A comunidade muçulmana confirmou algo maior: um centro cultural islâmico, com espaço inclusive para abrigar refugiados de conflitos internacionais e imigrantes.

O centro islâmico também estará voltado para o mundo dos negócios, operando em fina sintonia com a agroindústria local, da qual os países árabes são grandes clientes, inclusos entre os principais importadores de proteina animal.

Cooperativas como a C.Vale, Lar, Coopavel e Copacol, além da BRF/Sadia, implementam estruturas próprias no frigoríficos para atender exigências dos importadores islâmicos, entre elas o abate Halal, que segue uma série de procedimentos específicos e exige uma certificação própria.

O Centro Cultural Islâmico já tem área designada a partir da doação de um terreno no futuro Ecoparque, projeto habitacional e educacional disruptivo dos empresários Chico Simeão e Luiz Bonancin. As linhas arquitetônicas foram desenhadas em Dubai pelo engenheiro com passagem por Cascavel, Omar Hamaoui.

“É muito mais que uma mesquita, o Centro Cultural Islâmico terá biblioteca, local de estudo, recepção de turistas, refugiados, homens de negócios”, enfatiza o professor do Curso de Odontologia da Unioeste, Najib Hamaouni.

Prestigiaram também o lançamento a primeira e única vereadora islâmica da América do Sul, Anice Gazzaoui, e o sheik Oussema El Zahed, ambos de Foz do Iguaçu.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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