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Dia do caçador, dia da caça!

Operação “caça a jato” está punindo quem puniu a corrupção aos olhos plácidos de uma nação deitada em berço esplêndido; ambição política e imperícia de lava-jatistas rearranjaram o Mecanismo

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Março de 2018 – Marco Ruffo (Selton Mello) é um agente da Polícia Federal obcecado pelo caso que está investigando. Quando menos espera, ele e sua aprendiz, Verena Cardoni (Carol Abras), estão mergulhados numa das maiores investigações de desvio e lavagem de dinheiro da história do Brasil. A proporção é tal que o rumo das investigações muda completamente a vida de todos os envolvidos.

Aí está a sinopse da série denominada “O Mecanismo”, filme viralizado no ano eleitoral de 2018 com presumível notável influência na eleição.

O ator Selton Mello, o agente “Marco Ruffo”, durante cena de “O Mecanismo” em 2018: definitivamente, o Brasil não é para amadores (Foto: Divulgação)

1º de novembro de 2018 – Sergio Moro aceita ser ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro. Ali estava, sem que muitos percebessem, a senha para a rearticulação do “Mecanismo”. A movimentação deu fôlego àqueles que diziam: a Lava Jato estava imbuída de propósitos políticos e eleitorais.

4 de novembro de 2021 – Deltan Dallagnol, guri de Pato Branco, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, pede o chapéu no Ministério Público Federal para disputar uma cadeira no Congresso Nacional.

Era a senha de confirmação para o mercado eleitoral já contaminado pela ressurreição do “Mecanismo”: sim, a Lava Jato embutia propósitos políticos.

7 de junho de 2022 – O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo nega domicílio eleitoral para Sergio Moro, embora confirme a condição de “paulista” para o ex-ministro Tarcisio de Freitas, outro notório forasteiro que nunca morou em Sampa.

A trapalhada do ex-juiz, associada à sua filiação atabalhoada no União Brasil, lhe custou a condição de disputar a Presidência da República. Era o “Mecanismo” ganhando um empurrãozinho da imperícia morista.

9 de agosto de 2022 – O Tribunal de Contas da União, na figura do notório ministro Bruno Dantas, multa Dallagnol e Rodrigo Janot (ex-procurador geral da República) em R$ 2,8 milhões. A “condenação” pode tornar o rapaz de Pato Branco inelegível, barrado exatamente na lei da ficha limpa. Quanto ironia!

Dantas tem ligações com Renan Calheiros, uma das “vítimas” da Lava Jato e com Gilmar Mendes, o ministro mais soltinho do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro do Tribunal de contas da União (TCU) foi na canela de Dallagnol por diárias pagas aos procuradores que atuaram na Lava Jato.

Vale destacar: o TCU foi notícia neste ano por ter gasto R$ 1,2 milhão em diárias.

O próprio Dantas recebeu mais dinheiro em diárias (R$ 43 mil) que em salários (R$ 37,3 mil brutos). Ele viajou para Polônia, Arábia Saudita, Áustria e França. “No total, as viagens de Dantas entre janeiro e maio deste ano consumiram R$ 261,4 mil”, informa o Portal Metrópoles. Em outras palavras, façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço.

1º de julho de 2017 – Rodrigo Janot era procurador- geral da República. Algo bem diferente da função hoje exercida por Augusto Aras, mero “engavetador geral da República”.

Naquele julho de 2017, disse Janot, algo embrigado pela fama de caçador de corruptos:

“Enquanto houver bambu, vai ter flecha”.

Adaptando Drummond, é possível dizer: “E agora, Janot? E agora Deltan? A festa acabou, acabou o bambu, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, Janot?

E agora, Deltan?”

Uma última data para lacrar o ressurgimento do “Mecanismo” vem exatamente de quem dirigiu a série:

27 de maio de 2022 – Autor da série “O Mecanismo” e da franquia “Tropa de Elite”, o cineasta José Padilha afirmou que foi “idiota” por acreditar no ex-juiz Sergio Moro e que vai apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Realmente, eu fui um idiota de ter acreditado em Sergio Moro”, disse.

Em tempo: o jornalista Mario Sabino, da lava-jatista revista Crusoé, ironizou, na quarta-feira (10), a punição de Dallagnol e Janot pelo TCU: “O que irá combater a corrupção é a punição de quem a investiga. Sem quem a revele, a corrupção não aparece e, logo, não existe”.

Definitivamente, o Brasil não é para amadores…

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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