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Silvana Nardello Nasihgil

O poder das palavras

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Esse artigo para muita gente pode parecer sem lógica, do tipo: alguém faz isso?

Sim, muita gente faz, inclusive nós, sem pensar e sem ter a noção do quanto estamos prejudicando o crescimento e desenvolvimento dos nossos filhos.

Todas as vezes que falamos ou criticamos de modo negativo, diminuindo, acusando ou rotulando, estamos movendo o sentimento e o pensamento deles num caminho desconhecido e fazendo com que acreditem nas nossas palavras.

Os comportamentos negativos dos pais, na grande maioria das vezes, não tem o poder de fazer com que os filhos deixem de amá-los. Isso estará mais ligado ao amor próprio e à autoestima que serão desconstruídos palavra a palavra, frase a frase.

As palavras e frases do tipo: você é burro, você não faz nada direito, você não consegue fazer o básico, você é um idiota, você não aprende… coisas simples que muitos pais e mães falam sem pensar na hora da raiva ou quando o estresse tira o raciocínio têm um poder muito forte para quem recebe. A decodificação de algo tão forte dito por alguém que deveria cuidar e ensinar tem poder de fazer com que uma criança, adolescente e até jovens recebam como verdade e passem a crer nisso, limitando a vida dentro desse padrão atribuído pelos pais.

Sabe aquilo que estamos cansados de ouvir: a palavra tem poder? Sim, a palavra tem muito poder, construtivo ou destrutivo. Quando as palavras são proferidas por alguém em quem acreditamos e admiramos, elas têm poder de verdade. Quando uma criança ou adolescente recebe palavras negativas, ditas por quem amam, elas ecoam como algo incontestável e muito provável que mudem o comportamento para estar de acordo com a visão de quem os rotulou.

Os pais ou cuidadores têm na vida das crianças e adolescentes a obrigação de ajudá-los a construir um futuro onde se sintam capazes, onde acreditem serem capazes de dar conta da vida, onde aprendam a ser resilientes, saber agir, se arriscar, se permitir com segurança e coragem.

Esse papel precisa ser exercido com cuidado, com atenção e com muito amor. As palavras certas na hora certa servirão de incentivo para um caminhar seguro, para um crescimento saudável, formando adultos com grandes possibilidades de terem uma vida muito mais saudável e feliz.

Os filhos não podem ser o escudo do mal-estar dos pais. Pais infelizes tendem a criar filhos infelizes, e isso é inaceitável.

As pessoas precisam se resolver de alguma maneira para não fazer sofrer quem não tem nada a ver com a tempestade criada por elas.

Esses detalhes da vida, do educar, cuidar, sendo presença, ajuda, amparo são papéis dos pais ou cuidadores. Crianças nascem sem regras, sem saber como se posicionar e se conduzir no mundo, elas precisam de auxílio para aprender. Crianças e adolescentes não precisam ser julgados, precisam ser ensinados, respeitados em suas dificuldades, olhados, acolhidos e ouvidos com amor.

Algumas vezes é possível encontrar crianças e adolescentes com muito mais responsabilidade emocional que seus pais. Isso é lamentável!

Quem escolheu ter filho precisa saber que de alguma forma eles devem ser prioridades. Primeiro o cuidado e o bem-estar deles, depois os caprichos e desejos dos pais.

São tantos detalhes básicos que não são encarnados com seriedade que chega a indignar quem de bom senso conseguir observar esse padrão desconexo e sem sentido. É tanto abandono emocional, tanta criança sem ser prioridade em nada, sendo responsabilizada pelo que deu errado na vida de seus pais ou cuidadores, tendo que sofrer e se encolher diante da vida para dar espaço para gente disfuncional que não tem como enxergar sentido nisso. São tantos abandonados sem compreender nada e tanta gente que precisa olhar para si e aceitar que necessita de mudanças que esse processo se torna urgente.

Diante disso, os pais precisam repensar as atitudes, repensar sobre o que estão construindo. Pais atentos e que amam seus filhos saberão tratá-los com amor, ter cuidados ao tocar seus sentimentos, terão respeito pelo ser humano que está se construindo e não se descuidarão dos detalhes da vida.

Pais que amam seus filhos reconhecem neles a preciosidade que representa uma vida com tudo para aprender; buscam preservar a essência, ensinam com paciência, se beneficiam do amor para traçar uma relação harmônica e juntos semeiam o futuro sem medo e feliz.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

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