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Silvana Nardello Nasihgil

Uso indevido do celular é a porta de entrada para tragédias emocionais

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Quando escolhemos partilhar a vida com alguém, cria-se uma relação de pares e a vida solo precisa ser reconfigurada, pois muitos dos espaços vazios serão partilhados. A consciência do que significa formar um par precisa ser avaliada, precisa ser conversada, combinada, porque muito do que se vive quando sozinhos muda totalmente.

Nessa dificuldade de ser par é que muitos se juntam sem ter noção do que significa dividir a vida com alguém. Uma grande parte das pessoas se junta pelo desejo, outros por carência, para ter filhos, para dividir as contas, sair de casa, esquecendo que ser par é partilhar a vida, a cama, a casa, sonhos, desejos, futuro, responsabilidades, compromissos e tudo o que forma um novo modo de viver, em conjunto.

Nunca poderemos deixar de ser quem somos, mas não podemos de modo algum esquecer que viver em pares requer de cada um maturidade e comprometimento.

Assim, sem compreensão das responsabilidades e sem envolvimento real de compromisso, muitos casais levam a vida num automático. O tempo passa e a relação vai se desgastando, vai desbotando. E pra piorar o que não está bom, resolvem ter filhos, crendo que serão a solução e uma forte razão para manter a relação. E lá vêm os filhos, embrulhados em discórdia e confusão.

Tudo isso parece dramático e irreal, mas é a maior verdade vivida nos tempos de hoje. Muitos casais sequer se sentem casados, esquecem totalmente das responsabilidades um com o outro, dos deveres mais básicos e só lembrar daquilo que lhes favorece. Deixam portas escancaradas para a vida, aceitando todo o lixo vindo de fora que tem poder de destruir as suas relações.

E hoje, sem medo de errar, nomeio o uso indevido do celular como porta de entrada para as maiores tragédias emocionais e práticas na vida de uma família.

Ao invés de conversarem, de buscarem acertar as dificuldades, é mais fácil esticar o dedo e assim ter um mundo disponível. Não faltam pessoas à deriva para preencher qualquer necessidade dos vulneráveis. Um mundo fácil e “perfeito” é doado o tempo todo, onde os sem foco, sem direção, se deixam seduzir.

Pronto, está feita a rede de destruição, onde um mundo à parte e “perfeito” entra como um tsunami nas relações.

Na dificuldade de conversarem, resolverem, acertarem o que não está bom, melhor se entregar ao mundo do faz de conta, onde as pessoas se vendem como produtos, onde todos são perfeitos e onde se pode sonhar com aquilo que não se tem vontade de buscar dentro da relação real.

Antes de tudo isso acontecer, antes que acabe aquilo que tem potencial de ser pra vida toda, precisamos identificar o que vem fazendo a relação desmoronar. Quem realmente quer uma história verdadeira e consistente precisa ter maturidade para fazer acontecer.

Chega uma hora na vida que se faz necessário pensar sobre os nossos comportamentos, sobre aquilo que falamos e agimos, sobre como estamos conduzindo as nossas relações.

Chega uma hora que é necessário uma conversa séria, franca, em que cada um coloque as suas dificuldades em pauta, se alinhe o projeto de futuro e se reafirme o desejo de continuar.

Salvar uma relação depende dos dois, depende de saber que existem responsabilidades mútuas, que cada um precisa fazer a sua parte e tomar como comprimisso, buscando mutuamente se ajudar a fazer dar certo.

Quem não consegue precisa buscar ajuda profissional, porque, muitas vezes, se torna difícil retornar ou mesmo desenvolver novos comportamentos. Porque existe jeito, sim. Existe como reorganizar a vida e desenvolver cumplicidade, onde o amor ainda habita, mas perdeu o rumo.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

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