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Marechal Positivo para cocaína

Motorista de Marechal Rondon acusa laboratório de erro em exame toxicológico: “Jamais usei droga. Quero justiça”

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Data de coleta da amostra e da liberação do exame realizado em outro laboratório, usada na contraprova, que descartou presença de qualquer tipo de droga (Foto: Sandro Mesquita/OP)

A vida de Edvaldo dos Santos, de 48 anos, morador de Marechal Cândido Rondon, tomou um rumo que, segundo ele, nunca imaginou que poderia tomar.

Há quase sete anos trabalhando em uma empresa de bebidas como motorista de caminhão, Evaldo precisou renovar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para continuar a desempenhar sua função. A coleta do material, ou seja, pelos do corpo, para a realização do exame toxicológico foi feita no dia 18 de setembro de 2019 em um laboratório de Marechal Rondon. Depois de coletada, a amostra foi encaminhada para um laboratório toxicológico na cidade de São Paulo, onde foi realizado o exame.

O que Edvaldo não esperava é que o exame obrigatório para as categorias C, D e E, apontasse a presença do princípio ativo da cocaína. No entanto, ele garante que nunca fez uso de qualquer tipo de droga. “Jamais usei droga. Até hoje só vi cocaína pela televisão, nem cigarro eu fumo”, afirma.

De acordo com o laudo apresentado por ele à reportagem do Jornal O Presente, o resultado do exame ficou pronto no dia 06 de novembro de 2019, 49 dias após a data da coleta do material.

Dias depois de receber o laudo com o resultado positivo, Edvaldo realizou duas contraprovas em laboratórios distintos.

Numa delas, a coleta aconteceu no dia 22 de novembro de 2019 e, segundo os exames apresentados por ele, o resultado em ambas as contraprovas foi negativo para qualquer tipo de droga.

Todavia, de acordo com o rondonense, a contraprova feita no mesmo laboratório de São Paulo, onde o primeiro resultado havia sido positivo, mais uma vez o exame apontou a presença da droga. “Pra mim não tem explicação. Por que um exame deu positivo e dois deram negativos? Acredito que houve erro em algum momento”, enfatiza.

 

Bastante emocionado, Edvaldo dos Santos lamenta a perda da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e do emprego onde trabalhava há quase sete anos (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

CONSEQUÊNCIAS

Desde a confirmação do resultado positivo para a presença do princípio ativo da cocaína no exame toxicológico de Edvaldo a sua CNH foi suspensa, o que o impossibilitou de voltar a exercer sua profissão. “Sempre procurei fazer tudo certo no meu trabalho e mesmo assim a minha habilitação foi tirada de mim”, lamenta.

Casado e pai de um filho, ele conta que após ter conhecimento do resultado positivo a empresa onde trabalhava o demitiu alegando justa causa, e desde então ele permanece desempregado. “Estou procurando outro emprego, já entreguei currículo em empresas da cidade. Não importa o tipo de trabalho, preciso apenas trabalhar”, ressalta.

Visivelmente abalado e com os olhos lacrimejados, ele diz que se sente injustiçado. “Eu sempre trabalhei, sempre lutei com a cabeça erguida, nunca usei nada de droga, nunca fiz nada de errado pra ninguém. Jamais imaginei que isso aconteceria comigo, mas hoje estou sendo acusado de usar cocaína”, lamenta Edvaldo.

Ele menciona que já contratou um advogado que está cuidando do caso, e acredita que provará sua inocência. “Eu quero minha carteira de volta. Não quero dinheiro nenhum, quero apenas minha carteira pra poder voltar a trabalhar. Eu acredito na Justiça, porque o que fizeram comigo foi um crime”, afirma Edvaldo.

 

Resultado da contraprova que não detectou a presença de droga no organismo (Fotos: Sandro Mesquita/OP)

 

O QUE DIZ O LABORATÓRIO DE SÃO PAULO

A reportagem de O Presente entrou em contato com o laboratório de São Paulo para onde foram enviadas as amostras de Edvaldo e o qual apontou nas duas vezes resultado positivo para a presença do princípio ativo da cocaína no exame toxicológico do morador de Marechal Rondon.

Em nota, o laboratório informou o seguinte:

“A empresa possui um rigoroso padrão de cadeia de custódia, inteiramente documentado nos procedimentos e preservação total das informações.

Temos uma Trilha de Auditoria que garante a integridade da cadeia de custódia e estabelece de maneira permanente o vínculo entre o doador e a amostra.

Ou seja, a partir do momento que a coleta é realizada a amostra é protegida com o lacre, não podendo ser mais violada até que entre no processo de análise. Em qualquer momento que exista a violação, a recoleta é requerida de forma imediata e o material anterior é totalmente descartado.

Entretanto, caso o doador tenha questionamentos sobre o processo realizado, oferecemos o envio do documento denominado Detalhamento de Análise para elucidar as dúvidas em relação ao resultado apresentado.

Informamos que neste caso em específico foi realizada a contraprova. Lembramos também que exames coletados em datas diferentes não possuem a mesma janela de detecção, podendo, desta forma, apresentar resultados distintos”.

 

Data de coleta e de entrega do resultado do exame realizado no laboratório de São Paulo, que apontou a presença de cocaína (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

EXAME TOXICOLÓGICO

Desde março de 2016, após a criação da lei 13.103/15, tornou-se obrigatório para condutores com categoria de CNH C, D e E o exame toxicológico de larga escala de detecção, tanto para quem já possui habilitação quanto para quem pretende fazer a habilitação nessas categorias.

O exame tem o objetivo de detectar, numa janela de 90 dias retroativos à data da coleta, o consumo de anfetaminas, maconha, cocaína, opiáceos e ecstasy, de acordo com o anexo da Portaria 116 do Ministério do Trabalho.

Caso seja detectada alguma substância ilegal, a pessoa deverá realizar novo exame toxicológico, a contraprova. Nesse período, se a pessoa for habilitada, terá a CNH suspensa e recolhida, ficando impossibilitada de dirigir.

Os exames são realizados em laboratórios credenciados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

 

Motorista de caminhão Edvaldo dos Santos espera que a Justiça reconheça que houve erro em laudo de exame (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

COMO É O PROCESSO DE COLETA?

Amostras de cabelo com no mínimo quatro centímetros são coletadas. Caso a pessoa não tenha o mínimo necessário, será feita a coleta de pelos do corpo.

Se por algum motivo, como alguma doença que afete o crescimento de cabelos ou pelos, como Alopécia Universal (doença dermatológica), o exame poderá ser feito a partir de amostras de unha, mediante comprovação médica.

O envelope com o material coletado é lacrado na presença do requerente e de uma testemunha e encaminhado ao laboratório toxicológico responsável pela análise laboratorial.

 

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