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Política Surra no candidato "analógico"

Cascavel e Foz têm perfis semelhantes na faixa etária dos eleitores que irão escolher os próximos prefeitos

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(Foto: Divulgação)

É preciso dialogar com a jovem e digitalizada “faixa em movimento” e com as mulheres, majoritárias no colégio eleitoral

O eleitorado considerado jovem irá definir as próximas eleições em Foz do Iguaçu, pro­jeta o matemático Luiz Carlos Kossar, com base em estudo sobre o perfil da população que irá às urnas ano que vem esco­lher prefeito(a) e vereadores. Ele pontua os principais problemas de hoje e o desafio dos futuros gestores.

O analista discutiu o cenário pré-eleitoral, finanças, desempe­nho do turismo e economia em entrevista especial do programa Marco Zero sobre passado, pre­sente e futuro de Foz do Iguaçu. O jornalista Aluízio Palmar e o professor José Afonso de Oli­veira completam a série.

Para Kossar, o sistema políti­co e eleitoral distancia o cidadão do candidato, o que leva a uma frustração do eleitor, que não vê o representante como deter­minante na transformação da cidade. A maioria do eleitorado iguaçuense – 109.445 pessoas ou 55,8% – é considerada por ele “jovem e em movimento”, entre 16 e 44 anos.

“Ele tem boa escolaridade e é solteiro, com predominância do sexo feminino”, completa. “Em sua maioria, estão em idade pro­dutiva ativa, isto é, em movimen­to. É um perfil que pode escolher o inesperado”, prevê, concluindo que é um público conectado a “tribos e grupos”, por conta da internet e mídias sociais.

SURRA NO VELHO

“O modelo que eu chamo de analógico [candidatos e grupos políticos tradicionais] pode levar uma surra nas próximas eleições, como já aconteceu em vários lu­gares do Brasil, devido à internet e às redes sociais que levam a novas concepções”, reflete o ma­temático. “De um momento para o outro, esse eleitorado pode es­colher um candidato inesperado, que pode estar sendo germinado neste momento”, frisa.

“Por que esse jovem que está em movimento quer uma pers­pectiva de futuro”, prossegue. “Quando ele vê todos esses dados que a gente levanta e que come­çam a aparecer sobre a realidade da cidade, percebe que não se identifica com o sistema atual e pode arrumar alguém que o re­presente”, afirma Kossar.

PESO DA FOLHA

Em um de seus estudos que acaba de ficar pronto, Kossar de­monstra que Foz do Iguaçu desti­nou, em uma década, R$ 2,4 bi­lhões na gorda folha de pagamento do funcionalismo a mais do que cidades de mesmo porte, como Cascavel, Ponta Grossa e Maringá. “Qual é a justificativa? Os gestores públicos devem ser cobrados por essa disparidade”, propõe.

O estudioso da realidade iguaçuense atribui esse quadro a “leis criadas pela burocracia”, de uma “elite de servidores”, juntamente com a Câmara de Vereadores. “Isso interfere no desenvolvimento da cidade, pois são 2,4 bi que deixam de ir para investimentos. Todas as obras estruturantes de hoje chegam a um 1,5 bi”, comparou.

Esse montante acima das ou­tras cidades faz com que Foz do Iguaçu perca competitividade e também condição de reposição de servidores em novos con­cursos, por ter as receitas com­prometidas, avalia. “Uma das pautas dos próximos gestores é como solucionar esse problema”, defende.

GRAMADO FAZ 3 POR 1

Carlos Kossar constatou a au­sência de um plano turístico do município. Ele foi aos dados para embasar sua afirmação: Grama 

do (RS) tem 40 mil moradores, recebe sete milhões de visitantes por ano; Foz do Iguaçu, com 250 mil moradores, recebe dois milhões de turistas anualmente.

Falta gestão e planejamento, aponta. “São necessários gestores com visão e o envolvimento direto da sociedade. Não se vê um projeto consistente de turismo, para incluir e agregar essa massa de pessoas que está aí desprotegida, atravessando a ponte [com o Paraguai] para ganhar migalhas”, elenca.

Temos uma massa de trabalhadores na informalidade, de baixa qualidade profissional, e cem mil pessoas no cadastro social do governo, conforme dados oficiais, completa. “Não podemos ver nossos vizinhos se desenvolvendo, a 40 quilômetros e também do outro lado da ponte, enquanto Foz do Iguaçu está estagnada”, critica.

ITAIPU NA ECONOMIA

Ao analisar a produção econômica da Itaipu Binacional além dos royalties, bem como seu impacto na cidade, Kossar enxerga uma realidade preocupante. “Qual é a contribuição da empresa em termos de massa salarial? É insignificante. São somente seus cerca de 1,8 mil funcionários”, contextualiza.

De acordo com ele, produção gera emprego e renda – e, consequentemente, massa salarial. “Quando separa Itaipu, veja como fica Foz do Iguaçu: perde feio para qualquer outra cidade. Por que massa salarial é dinheiro na mão das pessoas e em circulação, sendo o que faz a economia girar”, ressalta o matemático.

Força feminina em Cascavel não se reflete na representação

Lilian Porto (esq.) e Beth Leal (dir.) homenageiam a presidente do Núcleo de Cascavel da APP-Sindicato, Marta Soligo: mulheres cascavelenses são maioria, mas sub-representadas

Embora majoritárias no eleitorado, mulheres nunca elegeram deputada, prefeita ou uma vice no município, e ocupam menos de 10% dos assentos na Câmara

Na edição 01 do Pitoco, veiculada em 27 de janeiro de 1997, já se destacava o gênero majoritário no colégio eleitoral de Cascavel: as mulheres. Naquela ocasião, um quarto de século atrás, havia 3,7 mil eleitoras a mais.

Hoje essa diferença se acentuou, até porque o número de eleitores também cresceu para 235 mil, segundo o TRE. Agora são 125,8 mil eleitoras cascavelenses e 109 mil eleitores, uma diferença significativa de quase 17 mil votos, suficiente para definir a eleição majoritária ou eleger meia dúzia de vereadores.Portanto, os candidatos àquela cadeira estofada no 3º andar terão que ofertar políticas públicas para o mundo feminino e dirigir mensagens específicas para elas.

Curioso é que o campo majoritário por gênero no colégio eleitoral cascavelense é sub-representado na Câmara Municipal, e mais ainda no Executivo Municipal. Dentre 21 vereadores, há apenas duas pessoas usando saias (até onde se sabe…).

São elas as professoras Beth Leal – primeira mulher negra eleita na história do município – e Lilian Porto. Ou seja, a representação feminina não chega a 10%, embora haja 17 mil mulheres a mais que homens no eleitorado local. Mais: Cascavel nunca elegeu uma deputada, uma prefeita ou sequer uma vice-prefeita mais de 70 anos após a primeira eleição.

Outros fatores a considerar dizem respeito ao pefil etário e grau de instrução. Cascavel ainda apresenta um eleitorado jovem. O maior grupo está entre 16 e 44 anos, são 127 mil eleitores neste campo. Entre 45 e 59 anos, há 61,3 mil votantes. Há ainda 45 mil idosos no eleitorado.

Por grau de instrução é possível dizer que o eleitor cascavelense típico estudou até a conclusão do ensino médio. São 71 mil eleitores com esse perfil. Há um crescimento – talvez impacto do polo universitário – entre aqueles com ensino superior incompleto ou completo: 60 mil eleitores. Cravar que isso representa um ganho qualitativo no voto é imensamente controverso.

TABU A QUEBRAR

Quebrar um tabu seria eleger uma mulher prefeita ou vice pela primeira vez na história. Quebrar outro tabu seria o prefeito de turno eleger seu sucessor. Salvo interpretação distinta, prefeito no exercício da função nunca elegeu seu ungido. Tudo indica que o atual vice, Renato Silva, terá o apoio do prefeito Leonaldo Paranhos. É uma aposta do “mercado eleitoral”. O fundador da Univel será o cara a quebrar o tabu, a maldição do indicado pelo prefeito?

Renato Silva e outro pré-candidato de cabelos prateados pelo luar do tempo, Edgar Bueno, estão adequados ao ditame do matemático Luiz Carlos Kossar, mencionado no texto anterior? Ou seja, eles terão desenvoltura nas redes sociais? Ou, nas palavras do professor Kossar, “de um momento para o outro, esse eleitorado jovem em movimento pode escolher um candidato inesperado, que pode estar sendo germinado neste momento”?

Com H2Foz

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