Arno Kunzler
A nova política envelheceu
Quem acompanha a política brasileira há mais tempo, no meu caso há 45 anos, não se surpreende, mas quem acreditou na NOVA POLÍTICA proposta pelo candidato a presidente Jair Bolsonaro deve estar impressionado.
Em menos de dois anos de governo, Bolsonaro sepultou várias bandeiras que o levaram ao Planalto.
A nova política que arruinou seus primeiros 365 dias, quase o levando ao impeachment, acabou de acabar.
Na economia o governo teve que ceder, podendo chegar a um déficit de mais de R$ 700 bilhões em 2020, devidamente autorizados, graças à pandemia.
Na política não conseguimos avançar. A proposta do fim das reeleições sequer está sendo discutida, que dirá as reformas do Judiciário, do Legislativo e a reforma partidária.
O que está sendo discutido, e aí renovo minhas preocupações, é a reforma tributária.
Nunca vi um governo, nesses 45 anos, iniciar uma discussão propondo reforma tributária para baixar impostos; sempre usaram o mesmo discurso para fazer o contrário: aumentar impostos.
O discurso da simplificação, da unificação de impostos, da ampliação da base tributária é só da boca pra fora.
Nenhuma reforma até hoje veio para reduzir impostos e também nem conseguiu simplificar.
Até porque acreditar em redução de impostos é ingenuidade.
Os governos não conseguem se manter se diminuírem os impostos. Logo, eles não vão diminuir.
Mas o que mais chama atenção neste momento é o comportamento político do governo.
Bolsonaro trocou de turma, ou porque percebeu que seus aliados, a maioria eleitos nessa enxurrada de votos que ele canalizou inclusive seus filhos, não eram competentes e nem confiáveis, ou porque a turma que ele tanto combateu nesses anos todos mostrou que é mais confiável e mais competente.
O afago ao ex-presidente Michel Temer (MDB), convidado a comandar a missão no Líbano, não é um fato isolado e nem ao acaso.
Com ele veio um novo líder no governo: Ricardo Barros, do PP, que foi ministro da Saúde de Temer.
Bolsonaro percebeu que precisa dos políticos experientes e tarimbados de Brasília não só para se manter no poder, mas para governar.
Bolsonaro não é o único e nem o primeiro a se eleger com propostas ousadas.
Outros já passaram por isso e depois lutaram para se manter no poder.
Dos presidentes eleitos após o regime militar, o que menos sofreu percalços foi Fernando Henrique Cardoso.
Talvez por ser o mais articulado com o Congresso.
Até Lula, com todo o apoio popular, teve que se ajoelhar diante do Centrão para não ser cassado no processo do mensalão.
Collor e Dilma não resistiram e naufragaram diante da falta de apoio do Congresso.
Bolsonaro percebeu em tempo e mudou.
Agora, a pergunta que fica: ele faz bem ou faz mal?
Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos
arno@opresente.com.br