Fale com a gente

Arno Kunzler

Moro: um juiz durão

Publicado

em

O Brasil conheceu e aprendeu a admirar Sergio Moro por ser um juiz implacável, inflexível e determinado a botar na cadeia quem tivesse envolvido com corrupção.

E teve muita gente, e muita gente foi pra cadeia.

Sergio Moro colheu adversários da esquerda e da direita, dentro do Judiciário, dentro da classe dos advogados e do empresariado acostumado a negociar com políticos corruptos.

Os juízes e desembargadores do TRF4 de Porto Alegre e do STJ corroboraram todas as decisões de Sergio Moro, mantendo os réus condenados e presos e alguns até aumentando a pena.

Portanto, não se tratava de factoides imaginários, eram processos reais, confissões públicas e dinheiro depositado em bancos, principalmente no exterior.

Sergio Moro chegou a ser cogitado para ser candidato a presidente do Brasil, mas relutou e preferiu continuar juiz.

Depois da eleição de Bolsonaro, Moro considerou o convite que lhe fora feito, certamente no intuito de continuar militando contra a corrupção, agora dentro do governo.

Mas descobriu em poucos meses que ali não é lugar de juiz e que lidar com políticos e a política partidária é diferente.

Diferente, talvez até do seu próprio juízo no auge da sua atuação no combate à corrupção.

Passou a perceber quantos inimigos rodeavam seu gabinete.

Não resistiu e pediu demissão em meio a discussões e acusações com o próprio presidente Bolsonaro, de quem ainda seria aliado ao final do mandato, quando buscava a reeleição e Moro já era senador eleito.

O esforço foi em vão. Mesmo eleito, Moro percebeu que a política é uma arte, uma arte quase diabólica.

Percebeu que tanto o PT, de quem se tornou algoz por ter colocado na prisão o seu líder máximo, quanto o PL de Jair Bolsonaro, em cujas fileiras militam inúmeros ex-condenados, não o queriam.

Passou a responder um processo de cassação, onde juntaram alhos com bugalhos para tentar provar sua culpa.

PT e PL e mais um sem número de partidos que não querem expor seu ódio contra o ex-juiz trabalham silenciosamente para acabar com a imagem e a reputação de Sergio Moro e, assim, sem apelo popular, cassá-lo.

O julgamento que começou ontem (segunda-feira, dia 1º de abril), com a ideia clara de que Sergio Moro seria cassado, foi interrompido após o voto do relator, desembargador Luciano Carrasco Falavinha Souza.

O relator refutou todas as acusações contra a legalidade da campanha de Sergio Moro como candidato a senador pelo Paraná, dos gastos feitos pelo Podemos em Brasília por ocasião da sua filiação àquele partido, que pretendia lançá-lo candidato a presidente do Brasil.

A somatória dos gastos de Sergio Moro não chega a 15% do que o limite para um candidato a senador gastar em sua campanha, e é menor do que a média dos gastos feitos pelos demais candidatos ao Senado.

Ficou claro, pela longa e minuciosa descrição do relator de mais de 200 páginas, que a acusação contra Sergio Moro é apenas política.

Que, para os políticos, Sergio Moro deve ser cassado e alijado da política apenas por ter importunado empresários e políticos corruptos e colocado na cadeia centenas de “inocentes” milionários com contas no exterior.

Certamente Moro cometeu exageros e não vamos discutir aqui seus excessos como juiz.

Mas tirar dele um mandato legítimo delegado pelo povo paranaense seria um lastimável equívoco do Poder Judiciário paranaense.

Espero sinceramente que após o voto contundente e convincente do desembargador Falavinha, em seu relatório de mais de 200 páginas, pedindo que Moro não seja cassado, prevaleça na semana que vem, quando o julgamento for concluído.

Se Sergio Moro não é um bom político, é outra questão, mas o povo o elegeu e em nome dos votos que recebeu deve exercer seu mandato até o final, gostem ou não gostem dele.

Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul

arno@opresente.com.br

@arnokunzler

Copyright © 2017 O Presente