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Arno Kunzler

Corredor de drogas

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Nesta semana muito se falou nesta região em combate ao crime organizado na fronteira. O governador Beto Richa e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, lançaram em Foz do Iguaçu o primeiro Gabinete de Gestão Integrada para cuidar da fronteira. Richa anunciou, ainda, que 500 policiais formarão um novo batalhão de fronteira que será criado pelo Governo do Estado. Mas, apesar dessas notícias importantes e interessantes, para quem durante anos cobrou mais segurança e maior organização no combate ao narcotráfico principalmente, essas conquistas não são suficientes, conforme avalia o novo comandante da terceira Companhia da Polícia Militar, Capitão Valmir de Souza.
Suas observações são pertinentes e cabe pelo menos uma reflexão sobre o assunto.

A questão do tráfico de drogas, armas e contrabando não fica somente na fragilidade do combate na fronteira, mas na fragilidade do combate em todo Brasil. Se não vejamos.
A droga que entra pelo Lago de Itaipu, Foz ou Guaíra passa pela fronteira malcuidada, mas também passa por outros mil quilômetros de rodovias, ferrovias ou aerovias que não têm fiscalização.
Se os contrabandistas não são pegos na fronteira, poderiam ser pegos no caminho para os centros de consumo, mas isso também não ocorre. Então, é evidente que a fronteira é o lugar mais importante para combater o crime organizado, mas não será o único lugar que precisa de outros mecanismos mais eficientes para dar conta do combate ao tráfico.
Não vamos nos iludir que cercando qualquer possibilidade do crime organizado não sobreviver na fronteira, nossas cidades estarão livres das drogas, armas contrabandeadas e do crime organizado que vive em função disso tudo.
O país carece de estruturas de segurança, mas também carece de leis mais rígidas para punir adequadamente os criminosos que são pegos e normalmente são pegos pela segunda, terceira, quarta ou quinta vez cometendo os mesmos crimes.
Precisamos aplaudir as medidas de combate ao crime organizado na fronteira, mas ter a visão suficientemente clara de que o crime organizado tão fortemente enraizado nas comunidades pobres dos grandes centros não vai deixar de atender à demanda por drogas, armas e outros tipos de produtos contrabandeados só porque o país melhorou a segurança na fronteira.
Haverá outros caminhos para o produto entrar no Brasil e se os corredores que levam para os grandes centros continuarem livres, passarão sem problemas.
Pelo menos para nós aqui será um alívio, porém, não será solução para tantos crimes que acontecem todos os anos nas grandes cidades envolvendo gangues de organizações criminosas.
Infelizmente a constatação do capitão Souza é absolutamente oportuna e correta. Não é só na fronteira que a fiscalização é falha, é em todo país, principalmente ao longo das estradas que nos levam a São Paulo e Rio de Janeiro. Se nada for feito de diferente por aí, basta o crime organizado mudar a estratégia para trazer o produto dos países, especialmente Paraguai e Bolívia para dentro do Brasil.
O resto do caminho continuará livre, sem oferecer qualquer resistência a quem quer que seja.

Então, apesar de ver uma das grandes reivindicações desta região sendo atendidas pelo Governo do Estado e pelo governo federal, temos que ter muita cautela na hora de comemorar os resultados e principalmente entender que a solução provavelmente será apenas parcial, localizada. Que vamos continuar vendo os filmes de terror passando nos noticiários jornalísticos das televisões brasileiras, mostrando como é a vida nas comunidades pobres dos grandes centros do país.

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