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Arno Kunzler

CORRUPÇÃO – HOJE E ONTEM…

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Tenho ouvido muitos questionamentos sobre a questão da corrupção. As pessoas ligadas ou as que defendem o atual governo alegam que sempre houve corrupção e que nunca deixará de ter.

De fato, elas têm razão. É provável que sempre, em todos os governos, houve algum tipo de corrupção e que de fato não conseguiremos eliminar esse problema porque ele é inerente ao ser humano.

Mas vejamos, uma coisa é corrupção praticada por algumas pessoas dentro de um governo, onde aquelas pessoas levam vantagem. Outra coisa é a corrupção que envolve um negócio, uma obra, uma licitação, algo pontual que cessa.

Outra coisa é um governo corrupto, onde a corrupção é comandada de dentro da Casa Civil e alcança praticamente todas as esferas. Algo institucionalizado com hierarquia e tarifas previamente estabelecidas.

A empresa que vai vender para o governo já sabe que precisa pagar propina, já sabe até o percentual, com quem ela deve acertar antes, e pra quem deve pagar. Algo organizado, uma estrutura paralela dentro do próprio governo.

Então, é possível perceber diferença entre a corrupção que sempre existiu e a corrupção praticada de dentro do governo?

E o mais importante disso é o comportamento das autoridades diante da revelação da existência ou da suspeita de que houve corrupção.

É normal, pelo menos deveria ser, que, diante de evidências mais ou menos claras, os envolvidos sejam afastados dos seus cargos para apuração dos fatos.

Quando o Ministério Público indicia alguém, com fatos probatórios, fruto de investigações detalhadas, não se pode admitir que o indivíduo continue no cargo, mesmo que ainda não tenha sido julgado, até porque os julgamentos desse tipo de acusado normalmente obedecem a prazos generosos até serem concluídos.

Assim, permanecendo nos cargos, acabam se beneficiando deles para defesa e para produção ou destruição de provas.

Mas no caso da corrupção dos últimos governos, o que se vê é que todo governo vem imediatamente em defesa dos acusados, numa tentativa clara de sempre desqualificar os acusadores ou criar suspeitas sobre as provas.

Assim, a sociedade acaba assistindo esse circo vergonhoso, onde a corrupção e os corruptos são parte privilegiada, não com direito à ampla defesa, como preconiza a Constituição, mas com direito a defensores com mandato e em alguns casos até com poder sobre instituições.

Como na prática quase todos que ocupam cargos importantes têm algum padrinho ou devem algum favor para alguém, é no mínimo imaginável que antes de levar um “companheiro” pego em flagrante para cadeia, há uma enorme movimentação política e jurídica em sua defesa.

Essa é a diferença entre corrupção e “corrupção”.

Ainda assim cabe saudar o mecanismo chamado “delação premiada”.

Que bom que os presos, aqueles pegos em flagrante, podem se arrepender e falar o que sabem com direito à redução de suas penas. Talvez isso faça alguns pensar melhor, acreditar que não estão imunes e um dia, mesmo que não pegos em flagrante, podem ser enrolados e chamados a “Curitiba”…

 

* O autor é jornalista e diretor do Jornal O Presente

arno@opresente.com.br

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