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Elio Migliorança

DISCRIMINAÇÃO

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Notícia é coisa do dia, pois logo novos fatos se sobrepõem aos anteriores e assim as informações viajam à velocidade da luz. Para o bom observador, porém, o cruzamento de duas notícias distantes revela a discriminação no tratamento dispensado pelo governo à população e especialmente a quem paga as contas do governo. Em 13 de junho passado cerca de 150 índios estavam deixando a sede da Funai em Brasília, ocupada durante quatro dias. Era o mesmo grupo que havia invadido em maio o canteiro principal das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte (PA). O grupo foi transportado do Pará até Brasília em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), e lá invadiram a sede da Funai, foram recebidos por ministros para negociar em nome do governo sobre a paralisação das obras da usina. Por outro lado, em 10 de setembro último, foi noticiado que agricultores de cinco municípios das regiões Oeste e Sudoeste do Paraná ocuparam o canteiro da Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu, levando à paralisação das obras. Querem apenas um preço justo pelas terras que vão ser inundadas, terras conquistadas com muito suor e dedicação. A Justiça estipulou multa diária de R$ 100 mil aos agricultores. Eis aí uma diferença cavalar no tratamento dispensado aos dois filhos da mesma terra. Uma classe foi tratada como filho predileto e a outra como bastardo. Há algo mais legítimo e sagrado do que a terra de onde os pais tiram o alimento para os filhos?
Ambos lutam por seus direitos, mas os índios foram embarcados em aviões da FAB e levados para Brasília para invadirem prédios públicos e negociarem com o governo, já os agricultores, além de não serem ouvidos, foram multados e se insistirem na ocupação correm risco de prisão. Os valores oferecidos estão muito aquém do que é praticado naquela região. Esta história já conhecemos quando da desapropriação das terras para a formação do Lago de Itaipu. Quantas injustiças foram cometidas e quantos suicídios tivemos ao longo dos anos, consequência das feridas abertas na desapropriação onde muitos pioneiros viram seus sonhos enterrados, ou melhor, afogados pelas águas do lago. O que é visível e inaceitável é esta discriminação no tratamento dispensado aos pequenos agricultores, prestes a serem “despejados” do lugar que lhe é mais sagrado, a terra de onde sai o pão de cada dia. Os povos andinos possuem uma expressão adequada para expressar este sentimento ao se referirem à terra com a expressão “Pacha Mama”, que significa “mãe terra”, pois para o agricultor a terra é tudo, é a mãe, é a fonte de subsistência, é a vida dos antepassados e a garantia das futuras gerações. Pecam os governos quando não valorizam, e neste caso quando oferecem um valor muito aquém do que é praticado no mercado. Usinas são altamente rentáveis, quando bem administradas, é lógico, e para que possam funcionar precisam da área para a formação do reservatório. Nada mais justo que os sacrificados pelo projeto, sacrificados sim porque eles precisam entregar seu patrimônio e mudar-se para outra região, que recebam um valor justo pelo patrimônio que conquistaram suando a camisa. Só o ultimo escândalo no Ministério do Trabalho desviou muito mais do que o necessário para as indenizações naquela usina.

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