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Elio Migliorança

ENTRE O CORAÇÃO E A RAZÃO

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Começou o espetáculo. Durante 30 dias pode faltar pão, mas haverá circo à vontade. O meu coração manda torcer para o “escrete canarinho”, mas a razão reage assustada com a possibilidade de uma nova aposentadoria vitalícia para os futuros “heróis da pátria”. E assim vou seguindo dividido sem concluir se é melhor 30 dias de euforia ou depois a vida inteira ajudando a pagar o “presentão” que algum biruta ainda vai inventar um dia.
Em 19 de maio passado foi aqui publicado o artigo intitulado “O idiota e os heróis”, criticando o projeto do governo concedendo gratificação e aposentadoria vitalícia aos campeões das copas de 1958, 62 e 70, e recebi muitas manifestações concordando que aquele projeto é uma afronta ao bom-senso. Um dos mais extensos textos recebi de Mauricio Fick de Souza, da cidade de Osvaldo Cruz (SP), parte do qual vem transcrito a seguir.
“Também fiquei indignado com a proposta do governo. Os heróis de verdade são aqueles que têm seus benefícios defasados. Como é minoria, é fácil a forma covarde dos burocratas da previdência ignorá-los. É a apoteose da injustiça a premiação de absurdos previdenciários ao querer conceder este benefício indevido. Se aceitarem serão heróis mendigando ou usufruindo de valores não devidos. Quando escolhemos uma profissão temos uma expectativa de sucesso profissional. Para tanto nos preparamos e contribuímos para a Previdência Social. Temos heróis anônimos que sofrem para pegar o ônibus ou trem para chegar ao trabalho digno. Nem se fala daqueles que morreram em acidentes de trabalho. Acho que o governo devia ficar fora disso e passar a bola para a omissa CBF estudar o apoio financeiro. Indenização por quê? Por terem eles escolhido a profissão de jogador alegando amadorismo ou falta de gestão administrativa? Não inventem outra conta para nós. Todos nós temos direitos iguais. Nossos heróis campeões mundiais foram devidamente remunerados, premiados, tapinhas nas costas, desfile em carro aberto, homenageados com carinho pelo povão. Eles precisam de reconhecimento e dignidade não de apoio financeiro duvidoso à custa do contribuinte. Patrimônio e situação financeira depende de cada um de nós, de nossas virtudes e decisões próprias. No Brasil, o país do futebol, alguns dizem que a Copa do Mundo é uma guerra. Isso é um exagero. Guerra é assunto muito grave. Não se brinca com isso. Hoje ela está mais parecida com um campeonato europeu de luxo com meia dúzia de convidados disputando em outra região”.
Depois desta manifestação e voando para a África do Sul, na concentração da Seleção Brasileira, diante daquela constelação de estrelas, creio estar diante dos profissionais mais bem pagos do planeta. Se somarmos os salários de cada um e dividirmos pela área do local, chegaremos ao metro quadrado mais valioso do planeta. Então que tratem de pagar a previdência para garantir o seu futuro. Aliás, é vendo as negociações salariais destes caras que eu percebo o quanto sou pobre. Perto deles eu diria até miserável. Mesmo com toda a paixão nacional pelo futebol, os que se manifestaram, condenaram aquele projeto do governo.

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