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Elio Migliorança

Incentivo à rebeldia

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Há um fenômeno a partir do qual podemos extrair algumas lições, mas neste campo minado é melhor ficar com um pé atrás, pois colocar os dois num salto duvidoso pode ocasionar um tombo e graves lesões. Refiro-me a alguns parlamentares tachados de rebeldes, que votaram a favor da reforma da Previdência, contrariando a orientação do partido que havia fechado questão contra. O caso mais visível foi da deputada Tabata Amaral, do PDT de São Paulo, ameaçada de expulsão pelos caciques do seu partido.

Aqui cabem duas reflexões. Primeiro é se os parlamentares são obrigados a seguir a orientação dos partidos, pois nem sempre as decisões dos dirigentes partidários visam o bem do país e do seu povo, jogando a favor de seus interesses pessoais. As decisões normalmente são enfiadas goela abaixo dos seus membros. Como nesta safra eleitoral elegeram-se muitos parlamentares que possuem ideias próprias que vão além do interesse partidário, alguns não admitem fazer o jogo político e querem de fato o bem do país. Já alguns caciques partidários querem que o circo pegue fogo para beneficiarem-se disso lá na frente ao disputarem novas eleições, e assumem posições esdrúxulas querendo que todos coloquem ali sua digital.

Alguns com cérebro mais desenvolvido se rebelam e votam de acordo com suas convicções. Analisando o estatuto e as práticas dos partidos no país, cheguei à conclusão que o melhor a fazer é dizer “palmas pra eles”, por acreditarem estar votando na melhor opção. Sim, porque infelizmente os partidos políticos no Brasil se prostituíram de tal forma que viraram um balcão de negócios onde foram ultrapassadas todas as barreiras do bom senso e são vendidos, comprados ou alugados de forma vergonhosa e inaceitável. Começa pela sua organização. Antigamente os partidos tinham diretórios, que aos poucos foram sendo substituídos por comissões provisórias, o que, para o cidadão pouco ligado ao tema, parece não fazer diferença, mas revelam esta manipulação partidária. A diferença é que o diretório local pode decidir suas posições e cumpri-las. Já a comissão provisória fica refém do diretório estadual, que, por sua vez, fica refém do diretório nacional, e assim se a comissão provisória tomar uma decisão contra a ideia das instâncias superiores, estas simplesmente dissolvem a comissão e nomeiam outra que jogue de acordo com seus interesses.

Para a maioria dos partidos interessa o poder e o dinheiro, e se ainda sobrar algum resquício moral aí podem até fazer alguma coisa que seja interessante e útil para a população e o país. É o que temos visto nas últimas décadas, partidos criados para serem alugados em época eleitoral, para acessar o fundo partidário e para barganhar cargos nos municípios, Estados e no governo federal.

O que nós vamos pagar de impostos que irão parar nas mãos dos partidos políticos em 2019 chega próximo de R$ 1 bilhão. Isso mesmo! É o que está no orçamento da União para o fundo partidário, e surgiu agora um mentecapto que sugeriu elevar para R$ 2,7 bilhões o valor do fundo partidário. Após esta análise toda concluímos que é urgente que pessoas de bom senso entrem nos partidos e façam alguma coisa para mudar esta realidade. Vamos dar o primeiro passo para um dia chegarmos aos mil necessários e vamos incentivar os rebeldes quando a rebeldia for a favor do bem comum.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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