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Elio Migliorança

Minha decepção

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A notícia estampada nos principais meios de comunicação dando conta da prisão do vereador Adelar Neumann, de Marechal Cândido Rondon, no início de fevereiro, provocou espanto e perplexidade em toda a região, e eu particularmente fiquei chocado. Não conheço o vereador, mas a notícia de sua prisão em flagrante desencadeou uma série de questionamentos. Nos últimos anos eu e milhares de outros estivemos em Marechal em manifestações que protestavam contra a corrupção. Falava-se muito da corrupção dos políticos em Brasília, agora descobrimos que políticos locais estão sendo acusados de supostamente prestar-se a este tipo de crime, gente do nosso convívio que já discursou muitas vezes condenando a corrupção.

Outro questionamento refere-se ao motivo da prisão. O vereador estaria recebendo parte do salário de um funcionário público municipal por ele indicado para o cargo.

Como o prefeito responsável pela gestão do município entrega parte dos cargos para serem preenchidos por vereadores supostamente dispostos a se prestar a este tipo de jogo sujo?

No decorrer do processo fico sabendo que o vereador preso é professor municipal. Minha decepção aumentou.
Como um educador, responsável por ensinar valores morais e éticos às crianças, seria capaz de supostamente protagonizar um ato vergonhoso como este, vender um cargo público cobrando mensalmente parte do salário de quem foi nomeado?

E aí uma pergunta que não quer calar: é o único caso na Prefeitura de Marechal Rondon? Que outros cargos foram porventura entregues a vereadores para que indiquem companheiros para a função?

Coincidentemente nos dias subsequentes ao fato estive num evento em Marechal, quando compartilhei com um amigo meu o espanto e indaguei sobre a repercussão da prisão na cidade. A resposta foi um sorriso maroto seguido de uma frase emblemática: possivelmente não é o único, tem muito mais.

Esse muito mais significa que os rondonenses acreditam em mais casos de corrupção como este que levou o vereador à prisão. É bom que todos os funcionários que se submetem a este tipo de chantagem saibam que também são corruptos pois aqui cabe aquele velho ditado popular: tanto é ladrão quem entra na horta como quem fica na porta. Tanto é ladrão aquele que rouba como aquele que dá cobertura. Entrar neste tipo de jogo é ajudar a promover a corrupção.

O caminho correto é denunciar os que utilizam esta prática para que sejam exemplarmente punidos. Não importa se os valores envolvidos são grandes ou pequenos, é corrupção e merece punição. Não podemos aceitar que isso aconteça em nossa comunidade. Parabéns ao Ministério Público e ao Gaeco pela investigação dos fatos que levaram o vereador à prisão. A população espera que as investigações continuem e que todos os que praticam estes crimes sejam identificados e punidos.

Os eleitores deram um duro recado aos políticos nas eleições de 2018, e nós, esperançosos, acreditamos que um novo tempo se iniciou. Novo tempo em que estas velhas práticas de assalto ao dinheiro público não encontram mais espaço.

A minha Igreja acaba de lançar a Campanha da Fraternidade 2019, cujo tema é “Fraternidade e Políticas Públicas”. É um chamado a todas as pessoas de boa vontade para que participem ativamente das decisões que envolvem projetos pagos com dinheiro público. Você também é responsável, faça sua parte.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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