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Arno Kunzler

O peso da farda

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Bolsonaro, pelo jeito, não vai dispensar a possibilidade de ter um general como vice.

Gostou da caminhada em 2018, quando escolheu o general Hamilton Mourão, de quem se afastou durante o governo, mas foi importante para sinalizar aos brasileiros, especialmente os mais conservadores e que militam politicamente na direita, que o Exército estava com o presidente.

Como o Exército recuperou o prestígio que havia perdido, depois dos governos do PSDB e PT, Bolsonaro tenta manter o elo com as Forças Armadas que lhe rendeu votos e prestígio na primeira eleição e durante o governo.

Sinaliza para seus eleitores que não recuou de sua tese inicial de não ceder espaço aos políticos de quem sempre se manteve equidistante, apesar de ter sido deputado por quase 30 anos.

Desta vez, ao contrário da eleição de 2018, Bolsonaro terá muito dinheiro e tempo de televisão para fazer a defesa do seu governo e da candidatura à reeleição.

Em 2018 entrou como franco atirador, agora entra como favorito a disputar o segundo turno.

Conseguiu até agora o que mais queria: isolar todos os seus adversários internos – Sergio Moro, João Doria, Luiz Henrique Mandetta, Eduardo Leite e Rodrigo Pacheco -, que poderiam disputar seus eleitores e eventualmente crescer na disputa ameaçando seu lugar no segundo turno.

Bolsonaro não se importa que Lula esteja à sua frente nas pesquisas, ele se importa com os outros candidatos que poderiam lhe alcançar eventualmente.

Sabe que se houver segundo turno entre Bolsonaro e Lula, muitos que não querem votar nele hoje acabarão votando simplesmente porque rejeitam o PT.

A única coisa que Bolsonaro não conseguiu evitar foi a ida de Geraldo Alckmin para o PSB, partido pelo qual deve se tornar candidato a vice de Lula.

Esse foi um passo de Lula em direção ao centro. Se vai render votos ou não, ainda não se sabe, mas é certo que Lula vai tentar fazer sua chapa ser mais palatável junto ao eleitorado que votou em Bolsonaro para presidente em 2018, mas que não aprova seu governo.

Bolsonaro engordou sua candidatura trazendo vários partidos que em 2018 não estavam com ele e com isso aumenta o espaço para um contingente de políticos que tenta chegar a Brasília à custa do presidente.

Por outro lado, essa guinada de Bolsonaro para abraçar os tradicionais partidos políticos de centro deve diminuir nesta eleição, os militares que na última eleição colaram nele e obtiveram resultados impressionantes.

O peso da farda que leva Bolsonaro a escalar um general para ser seu vice não deve replicar com tanta profundidade nas candidaturas menores, para o Congresso e Assembleias Legislativas.

Para quem acompanha a política mais de perto, apesar de procurar novamente um general para vice, Bolsonaro mudou a estratégia.

Em 2018 aproveitou a onda de rejeição dos políticos tradicionais. Agora está com eles, terá que inovar para não cair em contradição.

Se mantém alinhado com a direita, seus eleitores mais fiéis, mas nem a direita e nem a esquerda elegem um presidente, é preciso ser mais, é preciso avançar num eleitorado mais ao centro para obter maioria.

 

Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos

arno@opresente.com.br

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