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Elio Migliorança

OUTUBRO CINZENTO

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Outubro se foi e ele devia ter sido cor-de-rosa. Só foi no imaginário de algumas pessoas que vestiram cor-de-rosa, contribuíram adquirindo camisetas e fazendo propaganda, disseminando a ideia de um imaginário ideal, mas de prática frustrante. Andando por cidades da região, lá estavam os laços cor-de-rosa a enfeitar os postes e a estimular as mulheres a fazer a mamografia. A impressão era de um esquema funcionando como numa campanha de vacinação, onde a pessoa vai, agenda o exame e logo será atendida, talvez em uma semana. Pobres mulheres que acreditaram nisso. Acompanhei vários casos de mulheres que tentaram agendamento e estão na fila de espera para fazer o exame daqui a alguns meses. Mesmo mulheres que aceitam pagar o exame enfrentam dificuldades de agendamento. E daí no Brasil é assim. Quando há um problema grave como este, pois é grave alguém não conseguir tal exame em curto prazo, aprova-se uma lei que dará a falsa impressão de que o problema será resolvido. Infelizmente não é assim, porque se fosse, teríamos que acreditar que o fato de o tratamento não ser iniciado logo é por má vontade dos responsáveis por isso, e aí seria uma atitude no mínimo criminosa.
Segundo a “Femama”, federação que reúne entidades filantrópicas de apoio contra o câncer, atualmente para uma mulher conseguir agendar uma mamografia no serviço público de saúde é de em média 60 dias, e a média nacional para uma mulher começar um tratamento contra a doença no Sistema Único de Saúde (SUS) é de seis meses. Isso é uma eternidade no tempo de desenvolvimento do câncer, que pode levar a doença a um estado avançado, inviabilizando sua cura total. Foi aí que entrou o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional no último dia 30, estabelecendo que o tratamento pelo SUS do paciente que receber o diagnóstico da doença deverá iniciar em no máximo 60 dias. Como até as pedras do calçamento do Largo da Ordem em Curitiba sabem que os responsáveis pelo setor de saúde pública só não começam o tratamento imediatamente porque não há condições, seja por falta de profissionais, por falta de espaço ou equipamentos, não será uma lei que vai conseguir fazer isso acontecer. É preciso muito mais. É preciso colocar a saúde no centro dos debates e principalmente no centro das destinações orçamentárias. Neste momento está sendo elaborado o orçamento do governo federal para o ano de 2013. Esta é a hora do pulo do gato. Os congressistas deviam destinar os recursos suficientes para tal, e não só para a saúde, mas também educação e segurança, setores que nos colocam entre os piores do mundo. No dia 30 aprovaram aquela lei e no dia seguinte (31 de outubro) a Câmara aprovou a lei isentando a Fifa do pagamento de impostos sobre todos os negócios da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, lei que agora vai para o Senado aprovar. Logo este privilégio para a Fifa, dirigida por meia dúzia de cartolas que estão sendo investigados por desvio de grande volume de recursos, inclusive com brasileiros envolvidos. Enquanto isso, nossas irmãs mulheres continuarão morrendo por falta de tratamento de câncer porque não há recursos.

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