Arno Kunzler
Pior momento
É possível afirmar que o governo do presidente Jair Bolsonaro está enfrentando seu pior momento.
Só a pandemia já seria um problema para o governo, ainda que poderia ser um problema menor do que este que vivemos em função da falta de entendimento e liderança nacional para combater a Covid-19.
Não bastasse a pandemia, o governo ainda gerou dificuldades extras ao se indispor com o Congresso, onde teve que empenhar parte da sua liberdade de governar para não sofrer um processo de impeachment.
O fracasso no combate à pandemia, finalmente demonstrado com a troca do ministro de Saúde, só piora outro problema: a economia.
O governo teve que socorrer os cidadãos em dificuldades, governos estaduais e municipais aumentando seus gastos e gerando um rombo histórico nas contas públicas.
Por outro lado, desde meados do ano passado os preços de quase todos os produtos estavam sofrendo oscilações, o que provocou um processo desenfreado de altas, que resultou no aumento da inflação.
Inerte nesse tempo todo, o governo esperava soluções do mercado, que não vieram e agora precisou reagir com juros e provavelmente corte de linhas de crédito para evitar explosão inflacionária.
Esse aperto monetário, ainda que tardio, vai gerar consequências e uma delas é a recessão.
O discurso do ministro Paulo Guedes foi por água abaixo.
Juros baixos, crédito abundante, estabilidade de preços e flexibilização da economia não estão se sustentando nos moldes propostos pelo governo.
A pauta do ministro não entra nas prioridades do Congresso.
O estrago maior está na perda do poder de compra da massa salarial.
As empresas não têm como absorver a alta dos insumos e repor perdas salariais.
Esse vai ser um processo muito dolorido tanto para o governo como para a economia.
Além de todos esses problemas internos, o Brasil perdeu prestígio internacional com discursos e manifestações que geraram grande desconforto em inúmeros países, até então nossos melhores parceiros, como a Índia, China, Alemanha, Estados Unidos e Argentina.
Hoje, o governo precisa implorar, quando não se desculpar primeiro, para conseguir reparar os equívocos provocados de forma grotesca e desnecessária.
Além de tudo isso, Lula está livre e Bolsonaro, enfim, tem adversário para a campanha de 2022.
Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos