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Arno Kunzler

Torcedores do Corinthians

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Efetivamente não tem lógica punir os torcedores do Corinthians pela morte do garoto boliviano Kevin Beltran Espada, de 14 anos, na cidade de Oruro, durante a partida válida pela Copa Libertadores da América entre Corinthians Paulista e São José da Bolívia. O senso de justiça não pode generalizar pessoas sob pena de provocar muito mais injustiças do que fazer justiça.
Fazer justiça é investigar o crime, descobrir o autor ou os autores dessa tragédia e puni-lo(s) conforme prevê a lei, ou seja, cadeia.
Os criminosos podem ser torcedores do Corinthians, mas daí punir os corintianos, que nada têm a ver com o crime, é uma forma simplória de minimizar o acontecido.
O crime foi cometido por pessoas e não pela instituição Corinthians, pessoas que entraram no Estádio em Oruro, na Bolívia, portando sinalizadores que, se são permitidos, estavam em situação normal e, se não são permitidos, deveriam ser contidos pela segurança do clube boliviano.
Condenar o Corinthians e sua torcida pelo gesto irresponsável e criminoso de uma pessoa, ainda que torcedora do Corinthians, não é absolutamente a punição que se requer num caso como esse.
Seria mais ou menos a mesma coisa que punir o povo de Pato Bragado, por exemplo, por um crime cometido por um cidadão daquele município no Paraguai.
O fato de ser morador de Pato Bragado não estende sua responsabilidade sobre os demais cidadãos daquele município e muito menos sobre a prefeitura local.
Assim, o cidadão de Pato Bragado ou Marechal Cândido Rondon que cometer um crime no Paraguai vai responder pelo que fez naquele país, na forma da lei.
É inconcebível que a Conmebol esteja tratando o assunto de uma forma tão leviana e tão simplória, sem noção de responsabilidade.
Se o torcedor do Corinthians agiu fora da lei, ele, torcedor, tem que responder por isso e não os demais torcedores do Corinthians sob a alegação simplista de que são todos torcedores do mesmo clube.
Como se o clube, seus dirigentes e os demais milhões de torcedores espalhados pelo mundo tivessem responsabilidade solidária pelos atos que alguém pratica, apenas por se identificar com o mesmo clube!
Se fossem torcedores financiados pelo clube, orientados para agir daquela forma, aí sim poderia se imaginar algo parecido.
Mas a entidade sul-americana responsável pela organização da Copa Libertadores não pode esconder sua incapacidade de organizar e oferecer segurança aos que vão assistir a um jogo de futebol, apenas com medidas dessa natureza.
Aliás, só falta considerar a punição – uma partida sem torcedores, como suficiente pelo estrago que aconteceu em Oruro.
A morte de Kevin deve servir no mínimo para os dirigentes que organizam espetáculos dessa natureza, não só no futebol, mas em outros segmentos também, para que tenham maior preocupação com a segurança das pessoas.
Deve servir para os demais torcedores, não só do Corinthians, mas os valentões, irresponsáveis e criminosos de todas as torcidas, para que saibam que isso é crime e crime tem que ser punido rigorosamente conforme as leis de cada país.
Deve servir também para os dirigentes de clubes, do Brasil e do exterior, para que evitem estimular em seus torcedores esse sentimento.
Um dirigente, um jornalista ou grupos organizadores de torcedores acabam instigando algumas pessoas a cometer crimes, em nome de uma paixão idiota, muitas vezes respondendo provocações e desafiando os limites da intolerância.
Assim como as vítimas de Santa Maria, que a morte de Kevin não seja em vão, que o esporte seja praticado de forma menos violenta, especialmente fora dos campos. E que as organizações de competições tenham, antes de mais nada, a preocupação com a segurança e não apenas com o número de torcedores atraídos pelo espetáculo.
Há muito tempo esse tipo de “arma” deveria ser proibido em estádios e em locais de grande aglomeração.
Apenas pessoas especializadas deveriam manusear fogos de artifícios.
Todos sabem que um sinalizador pode matar, então por que deixam o cidadão entrar no campo com isso?

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