Arno Kunzler
Vereadores a perigo
Apesar dos políticos serem considerados “conservadores”, quando se trata de julgamento de um dos seus, na Câmara de Marechal Cândido Rondon o clima é perigoso para quem está sendo julgado.
A vontade dos vereadores certamente não é condenar um colega, ainda que pesem contra ele denúncias graves. Mas, se julgarem seus colegas inocentes, mesmo diante das acusações, o que pensa o seu eleitor?
Se para o deputado federal é difícil enfrentar o povo enfurecido com os desmandos em Brasília, imagina o que acontecerá com um vereador quando for pedir votos novamente para sua reeleição?
Então, o que acontece neste momento é um sangramento sem-fim na Câmara de Vereadores, algo jamais visto.
Caiu o primeiro e como num jogo de dominó as peças ameaçam cair uma a uma.
Se ninguém frear a ira dos que já foram acusados é perigoso sobrar pra todo mundo.
Parece que ninguém aceita sair sozinho, ainda mais sabendo que os demais também merecem o mesmo.
Não creio que a Comissão de Ética e o próprio plenário terão condições políticas de absolver um dos vereadores acusados, tamanha é a indignação das pessoas.
Absolver os acusados é o mesmo que destruir seu próprio futuro político.
E condenar os colegas pode ser um tiro no pé porque vai ter acusação pra todos os lados, e aí, por qualquer motivo que hoje parece nada grave, outros podem cair também.
Claro, bem diferente do meu ponto de vista, tem gente que acredita que as acusações vão cessar e aos poucos o eleitor vai aceitar essas condutas como normais.
E que os vereadores vão perceber que jogar para a opinião pública está destruindo a imagem do Legislativo e a carreira da maioria deles próprios.
Pode ser, eu não duvido.
Mas a julgar pela vontade repentina que alguns têm para colocar tudo em pratos limpos, vamos ter muitas e sérias acusações nas próximas semanas.
E se isso continuar, podemos ter cassações em série.
Talvez seja mesmo a hora disso acontecer.
Já não se suporta mais ver os políticos acomodando as coisas, mesmo sabendo que está errado.
É muito provável que a maioria dos políticos sabe das falcatruas dos seus adversários e tem até provas documentais para denunciá-los, mas prefere não denunciar ou porque faz a mesma coisa, ou para ter uma carta na manga e usar no momento certo.
E se o momento certo chegou, hã?
Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Revista Amigos da Natureza
arno@opresente.com.br