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Arno Kunzler

Vontade individual

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No Brasil, talvez no mundo todo, são inúmeras as discussões relacionadas ao consumo de álcool e fumo, duas drogas lícitas, além de todas as drogas ilícitas.

Parece normal que a vontade individual de cada cidadão deva ser respeitada. Se o indivíduo quer fumar, fuma, se quiser beber, beba, se quiser usar drogas, ora, pois, quem vai impedi-lo?

Então, a discussão que deveríamos adicionar a esse debate sem fim é se o individuo que, depois de esclarecido, depois de alcançar seu juízo adulto e estar em condições plenas de optar por se tornar ou não um viciado é quem deve pagar essa conta?

Sim porque nas circunstâncias atuais o cidadão que fuma normalmente acaba sendo usuário contumaz dos planos de saúde e dos serviços públicos a ponto de gerar esse desequilíbrio constante desses serviços.

O mesmo acontece com quem bebe com frequência e com o tempo se torna dependente.

Se observarmos, por exemplo, as seguradoras se protegem deste tipo de malefício. Se o sujeito que está ao volante estiver embriagado, por exemplo, a seguradora não cobre seus prejuízos financeiros.

Mas o Estado precisa dar atendimento ao indivíduo que, mesmo sabendo que não deveria, dirigiu embriagado.

Os planos de saúde são obrigados a atender o sujeito que bebeu, mesmo sabendo que isso aumentaria o risco de acidentes.

Em grande parte isso aumenta o valor dos planos que todos nós pagamos por mês.

Então, o que parece lógico e que um dia vamos ter que discutir é que se o Estado não deve proibir o indivíduo de fumar, de beber e consumir drogas, então o indivíduo não pode exigir do Estado que esse pague a conta e o prejuízo causado pelo seu vício que voluntariamente contraiu contra todas as campanhas e informações as quais teve acesso.

Se nem a família do indivíduo se preocupou em orientá-lo a não fumar, não beber e não se drogar, porque a sociedade tem que pagar a sua conta?

Quer dizer, podemos liberar o fumo, a bebida, as drogas até porque proibi-las não tem adiantado muita coisa, mas em caso de acidente, em caso de doença provocada por elas, o problema também é tão somente de quem assumiu esse risco.

Se essa medida não parece justa perante aqueles que veem nos dependentes algo diferente do que uma opção de vida, que em alguns casos certamente não é, pelo menos colocaria nas mãos de cada indivíduo e de sua família a responsabilidade por seus atos.

Quer fumar, sabe que faz mal, mesmo assim fuma e a família concorda, então paga pelo risco.

Quer beber, sabe que faz mal, mesmo assim bebe e a família concorda, então paga pelos danos que causou.

Quer se drogar, sabe que faz mal, mesmo assim se tornou viciado, a família não foi vigilante, então o risco e o prejuízo é seu e não dos outros.

Enquanto a sociedade paga o prejuízo, ou através dos impostos, ou através dos preços embutidos nos planos de saúde, vamos continuar discutindo uma parte do problema, justamente aquela que não dói no bolso, e quando não dói no bolso já está provado, o indivíduo não se conscientiza nunca.

Não é assim com as multas de trânsito? Se eu sei que é errado andar acima da velocidade permitida, mesmo assim ando, sou o único responsável por isso. Não é a sociedade que vai pagar a minha multa.

Não parece fora de propósito colocar essas questões na mesa das discussões, afinal, tem gente querendo liberar o uso e o comércio das drogas ilícitas.

E certamente os argumentos de quem luta pela liberação são os mesmos que fizeram um dia liberar a venda de bebida alcoólica e do cigarro.

Se a bebida e o cigarro estão liberados, por que não liberar tudo, desde que a sociedade não seja convocada a pagar a conta do indivíduo que de sã consciência assumiu o risco?

A solução de muitos problemas pode ser mais financeira do que moral, do que de conscientização. Enquanto ficamos apenas no campo da conscientização, o avanço no consumo de drogas é cada vez maior, assustador poderíamos dizer.

E a briga pela liberação não é de tudo algo tão estranho, pois em muitos países o uso e o comércio já é liberado.

Afinal, quanto o governo gasta por ano perseguindo contrabandistas e o crime organizado que vive em função desse negócio: drogas?

Não vamos longe, quanto o governo gastou só com o Fernandinho Beira Mar, em viagens, entre idas e vindas, aviões, agentes federais etc…?

E nós equivocadamente falamos que o governo gastou, mas quem gastou foi a sociedade.

Esse dinheiro é arrecadado através dos impostos e faz falta em outras áreas como saúde, educação, estradas e tantos outros serviços deficitários, para os quais se alega falta de dinheiro.

Se a seguradora pode excluir o “pinguço” de suas responsabilidades, por que os planos de saúde (que somos nós que pagamos) têm que arcar com isso?

O indivíduo comete loucuras ao volante, infringe todas as leis possíveis e depois exige que a sociedade – nós todos – pague a conta.

É justo?

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