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Elio Migliorança

A caixa de Pandora

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Há uma lenda grega que conta a história de Pandora, a primeira mulher criada pelos deuses Hefesto e Palas Atena a mando de Zeus, o principal deus do panteão grego, o qual desejava castigar os homens depois que outro deus Prometeu lhes havia entregue o segredo do fogo.

Quando Pandora é enviada para a terra, lhes foi entregue uma caixa na qual os deuses colocaram todas as desgraças do mundo, como a guerra, a discórdia, as doenças do corpo e da alma, entre outras. Mas nela havia um único dom: a esperança.

Pandora recebeu a ordem para jamais abrir a caixa. Contudo, ela foi aberta e os males que lá estavam aprisionados se espalharam pelo mundo. Diz a lenda que Pandora casou-se com Epimeteu, irmão de Prometeu, sendo ele o responsável por abrir a caixa que continha todos os males, espalhados depois pelo mundo.

Trata-se de uma lenda, mas ela nos coloca diante de uma nova caixa de Pandora que está prestes a ser aberta, agora no século XXI. A caixa de Pandora da era moderna atende pelo nome de Inteligência Artificial. É o tema que mais tem sido debatido e comentado nos últimos tempos.

A Inteligência Artificial é, sem dúvida, uma fronteira do conhecimento, da qual não conhecemos a extensão e o poder que possui. Dizem aqueles que entendem do assunto que a Inteligência Artificial vai provocar a Revolução Industrial da era moderna. Leigos como eu no assunto não possuem argumentos para posicionar-se a favor ou contra. Contudo, proibir a pesquisa na área não me parece o argumento mais inteligente.

Alguns defendem a proibição pura e simples por conta dos possíveis males que podem ser praticados por quem dominar esta tecnologia. Se partirmos desta linha de raciocínio, poderíamos questionar o uso livre que todos podem fazer de uma faca, já que a cada dia há pessoas feridas ou mortas a facadas. Não é o caso de proibir o uso, mas regulamentar o que pode e o que não pode ser feito com uma faca.

Se olharmos o lado da medicina, é bom saber que o aumento da expectativa de vida se deve à evolução da medicina, e a tecnologia foi fundamental para que isso acontecesse. A eletrônica, associada à informática, colocaram nas mãos dos médicos equipamentos que realizam verdadeiros milagres no corpo humano.

É bom saber que uma parte daqueles que defendem a proibição da pesquisa vem de grandes corporações da área digital, justamente porque é um concorrente aquele que está avançando nas descobertas dos recursos da Inteligência Artificial. A estratégia, então, é evitar que esta tecnologia seja dominada pela concorrência.

Outros se valem de supostas manipulações para proibir pura e simplesmente a pesquisa na área, meio no estilo medieval, utilizando-se da pedagogia do terrorismo e afirmando que será aberto o selo das trombetas do apocalipse. No mundo inteiro, inclusive no Brasil, discute-se a regulação da mídia digital. Regulamentar o uso das mídias é decisão acertada, justamente pelo poder que possuem de manipular as mentes e da divulgação de informações distorcidas e perniciosas para todos, podendo induzir multidões ao erro e à morte.

Disciplinar o uso e punir os criminosos digitais é urgente e indispensável para a nossa segurança. Proibir o ser humano de usar sua inteligência para desvendar novas fronteiras do conhecimento é no mínimo uma guerra do obscurantismo contra o iluminismo.

Se Deus nos deu inteligência e o poder da descoberta, nada mais justo que avançar até onde a inteligência nos permitir.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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