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Elio Migliorança

Do ridículo ao absurdo

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Enquanto nossa atenção fica dividida entre os embates da guerra no outro lado do mundo e as escaramuças eleitorais que cada dia mostram um lado perverso, pois, ao invés do debate de ideias e projetos de governo, está centrada em apontar defeitos dos adversários, há uma silenciosa e permanente sangria do dinheiro público e um esforço gigantesco para esconder isso daqueles que possuem o dom do discernimento.

Refiro-me ao orçamento secreto e às emendas do relator. Uma criação que beira ao ridículo e que vai caminhando para o absurdo da ausência de fiscalização.

Semana passada a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitou e marcou prazo para que o Senado e a Câmara informem os beneficiários das emendas e quem foram os autores que destinaram os recursos. Por incrível que pareça, a resposta das presidências do Senado e Câmara foi de que não conseguiram, dentro do prazo, identificar os autores, conforme solicitado pela ministra.

Aí, diante da absurda atitude para impedir a transparência na destinação dos recursos públicos, a estratégia tem sido atacar os ministros do STF como se estivessem interferindo na administração pública. Uma ideia tão absurda que é impossível calar diante de tal afronta ao bom senso.

O governo criou uma excrescência absurda nunca antes imaginada na história do país feita com dinheiro público para financiar interesses políticos pessoais, e que são de difícil fiscalização pelos órgãos oficiais de controle. A impressão que temos é que os mecanismos foram criados justamente para impedir ou no mínimo dificultar a fiscalização. O que tem vazado é que tem dirigentes partidários fazendo a festa com o nosso suado e sofrido dinheiro que pagamos dos impostos sobre nosso trabalho. 

Num país desgastado pela inflação, pela alta do custo de vida, pela diminuição do emprego e renda, por secas e enchentes que vão ceifando vidas e destruindo patrimônios, nós testemunharmos esta farra do boi gordo que é a apropriação do dinheiro público via emendas do relator, orçamento secreto e fundo eleitoral, que, juntos, somam mais de R$ 20 bilhões.

Não falarmos nada é um grave ato de omissão e ausência de solidariedade para com os mais pobres, quem na verdade paga a maior conta.  

Num típico movimento de “moralismo de garagem”, o dinheiro público está sendo tratado como se fosse originário das nuvens e não tivesse custado suor e sangue daqueles que produzem, pagam e não usufruem.

Há um esforço enorme, orquestrado por políticos de todas as alas, que vão da direita, esquerda, centro e daqueles que possuem um cifrão na cabeça, para divulgar notícias relativas à guerra e à crise por ela provocada para tentar desviar a atenção e tirar esta fortuna do centro das notícias.

No momento que estou terminando este artigo vejo a notícia da aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional(PEC) anistiando os partidos políticos que na última eleição não cumpriram a lei das quotas na destinação do Fundo Eleitoral. Agora é lei: o crime compensa, pois o governo enviou a PEC e o Congresso aprovou. Roubar não é mais pecado. 

Não devemos deixar isso cair no esquecimento. É preciso manter a chama acesa e confrontar com as matérias que aprovaram no Congresso todos aqueles que vierem barganhar votos na campanha política que se aproxima.

 

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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