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Elio Migliorança

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As redes sociais permitem enviar uma mensagem a milhões de pessoas apenas com um toque no “enter” do seu computador. Na semana passada o fatídico enter foi acionado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ao aceitar o argumento de que réus delatados têm o direito de falar por último nos processos em que também há réus delatores. É uma tese que pode levar à anulação de muitas condenações da Lava Jato.

O recurso é um detalhe processual equivalente a alguém que procura chifres em cabeça de cavalo. Mas, para as pessoas honestas deste país foi acionado o alerta vermelho, já que esta é mais uma articulação ardilosa cujo fim último é acabar com a operação Lava Jato no Brasil.

A Lava Jato foi o único processo que até hoje recuperou bilhões de reais para os cofres públicos e colocou na cadeia a fina flor da bandidagem criada mamando nas tetas do Brasil. A frustração e a decepção do povo brasileiro pode alcançar níveis jamais imaginados, já que a eleição de Bolsonaro à Presidência da República foi alicerçada pela crença de que o combate à corrupção seguiria implacável. As evidências indicam um desvio que puxa o freio de mão das investigações e segue a esperteza da velha política.

Onde isso foi percebido? Após uma reunião entre o presidente da República e o presidente do STF, o ministro Dias Toffoli suspendeu todos os processos que utilizavam informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), ficando claro que o objetivo era suspender o processo em que era investigado Flavio Bolsonaro. Em seguida o Congresso Nacional transferiu o COAF para o Banco Central, longe dos olhos do ministro Sérgio Moro, e aprovou o projeto de abuso de poder, uma clara medida para intimidar o Judiciário e o Ministério Público. E o ministro Gilmar Mendes deu uma mãozinha extra, suspendendo o processo que envolve o misterioso Fabricio Queiroz, assessor de Flavio Bolsonaro quando deputado no Rio de Janeiro.

O projeto anticrime enviado pelo ministro Sérgio Moro logo no início do governo segue sendo desidratado até provavelmente tornar-se irreconhecível. Enquanto isso o projeto para saquear os cofres públicos via fundo partidário foi aprovado a toque de caixa, e tudo leva a crer que o sepultamento da Lava Jato faz parte de um gigantesco acordo, e para desespero das pessoas honestas e trabalhadoras, o Brasil vai mergulhar na escuridão da corrupção e impunidade novamente.

A reação dos poderes superiores era esperada já que as denúncias e especialmente as delações premiadas estavam chegando na soleira da porta dos tribunais superiores. O presidente da República que se elegeu com o discurso do combate implacável à corrupção parece que engoliu o discurso para salvar os filhos e com os movimentos do STF, escritórios de renomados advogados vão ganhar muitos milhões e os ministros do STF vão faturar alto dando palestras e gritando aos quatro ventos que agiram em defesa do estado de direito e da democracia, quando na verdade o que estamos vendo aponta em outras direções.

O enter que permitiu a publicação deste artigo foi o meu gesto de reação por não concordar com o rumo destas decisões e o grito de socorro a todas as pessoas de bom senso que se manifestem e juntos consigamos pressionar as autoridades pela retomada da ética e da decência na gestão pública.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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