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Verri, o sobrevivente

Itaipu sob nova direção traz em seu comando um personagem que sobreviveu ao antipetismo do Norte do Paraná, região fortemente influenciada pelo antilulismo do interior de São Paulo

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Itaipu sob nova direção traz em seu comando um personagem que sobreviveu ao antipetismo do Norte do Paraná, região fortemente influenciada pelo antilulismo do interior de São Paulo

A vida já foi mais fácil para os petistas em Londrina e Maringá, municípios que chegaram a eleger prefeitos na década de 1990. Mas o cenário mudou muito no Nortão paranaense. Os números das últimas eleições dão as tintas ideológicas contemporâneas do eleitorado maringaense: ano passado, Jair Bolsonaro fez mais que o dobro dos votos de Lula na “Cidade Canção”. Ratinho fez 2 em cada 3 sufrágios e o lulista Requião apenas um em cada quatro.

Nesse cenário hostil, o maringaense Enio Verri surgiu com 105 mil votos e assegurou o terceiro mandato de deputado federal pelo PT. Havia várias nuvens ameaçadoras para o projeto reeleitoral dele para além dos apupos dos “patriotas” mais exaltados. Na eleição anterior, de 2018, quando o antipetismo migrou do tucanistão para o bolsonarismo, Verri viveu seu pior momento na luta pela sobrevivência política: cravou quase insuficientes 62 mil votos. Foi por pouco.

Em 2022, o “sobrevivente”, mestre em Economia pela UEM e doutor em Integração da América Latina pela USP, não só aumentou a votação no deserto de votos petistas do Norte do Paraná, como também pavimentou o caminho para o ápice de sua carreira política: a direção-geral brasileira de Itaipu Binacional. É… Verri vive.

A hidrelétrica é um canhão político e econômico, cujo orçamento produz recursos livres em dólares superiores à maioria dos ministérios enfileirados na esplanada de Brasília. Verri no comando de Itaipu será uma espécie de super-ministro paranaense.

OS BILHÕES DE ITAIPU

Quando ainda comprometia boa parte do seu orçamento com serviços da dívida – contraída para construí-la nos anos 1970 -, Itaipu já injetava centenas de milhões de reais na infraestrutura paranaense, através de um “bem-bolado” político entre o governador Ratinho e Bolsonaro.

Agora, em 2023, com a dívida paga, os recursos livres da binacional vão ultrapassar a monta do bilhão em moeda forte. A questão é: como Itaipu sob nova direção irá lidar com essa grana toda?

Diluir o dinheiro na conta da energia com ganhos pulverizados e apequenados em escala nacional, ou prosseguir em obras de infraestrutura como a segunda ponte Brasil-Paraguai e duplicação de rodovias como a do Contorno Oeste, em Cascavel?

Em entrevista para uma emissora de rádio de Foz do Iguaçu, já indicado para a direção-geral, Verri deu as tintas: “A atuação de Itaipu estará colada à agenda nacional do presidente Lula: questão ambiental, atendimento aos povos originários, inovação tecnológica, segurança alimentar, entre outras”, disse. O “sobrevivente” comentou ainda que vai manter investimentos em infraestrutura, “fundamentais para o desenvolvimento regional” e vitaminar a Unila, universidade gestada dentro de Itaipu.

l Em tempo: a posse de Verri na binacional está marcada para 15 de fevereiro, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Será a primeira visita de Lula ao Paraná após a eleição.

Até lá também deverão estar definidos os nomes para as diretorias de Coordenação, Administração, Financeira, Jurídica e Técnica de Itaipu.

Enio Verri, que faz votos pregando no deserto político petista do Nortão paranaense, agora à frente dos bilhões de Itaipu (Foto: Divulgação)

TOLEDO

De Fusquinha para Brasília!

Ele é dono de uma carreira política na linha roda gigante, ora por cima, ora por baixo. Foi deputado estadual por três mandatos, sucumbiu ao antipetismo em 2014 e não conseguiu renovar o mandato.

Filósofo por formação, Elton Welter invocou aconselhamentos de pensadores gregos e se recolheu para o sítio da família no interior de Toledo. De cabeça fria, decidiu recomeçar a carreira política pelo primeiro degrau: a Câmara Municipal. Disputou as eleições de 2020 e foi eleito vereador com 952 sufrágios.

Dois anos depois, foi para o sacrifício na frágil chapa do PT na disputa para a Câmara Federal. Sabia que as possibilidades eram remotas. Pilotando um Fusca vermelho (foto), colheu 21,1 mil votos e ficou a mais de 63 mil sufrágios de distância do último eleito na chapa, Tadeu Veneri.

Mas o partido venceu a eleição presidencial. Enio Verri, eleito federal, foi chamado para Itaipu e vai renunciar ao mandato. Com pouco mais de 20 mil votos, Welter do Fusquinha é deputado. E Toledo emplaca dois federais no Congresso, já que elegeu também Dilceu Sperafico para o sétimo mandato.

UMAS & OUTRAS

Paranhos assusta Brasília

-> A indefinição no entorno do novo modelo de concessão de rodovias no Paraná já leva os prefeitos a repensar seus planos.

-> Pelo projeto original do governador Ratinho Junior, haveria algo como R$ 42 bilhões de investimento da iniciativa privada. Já a sinalização que emana de Brasília versa sobre pedágio de manutenção, cujas tarifas jamais poderiam superar os R$ 5.

-> Como se sabe, pedágio barato é tapa-buraco. Não há como imaginar obras vultosas com tarifas de manutenção.

-> Assim sendo, prefeitos mais destemidos já estão chamando para si as obras. É o caso de Leonaldo Paranhos.

-> Ele esteve em Brasília na terça-feira (31), ocasião em que deve ter dado um susto nos burocratas do Ministério da Infraestrutura. É que, em regra, gestores públicos querem se livrar de atribuições, notadamente no que diz respeito a estradas.

-> O prefeito de Cascavel fez o oposto: pediu a municipalização do trecho da BR-277 entre o Trevo Cataratas Alsir Pelissaro e o viaduto da Tancredo Neves.

“Com o novo modelo de pedágio proposto, as obras de duplicação vão demorar demais, então o município pretende absover algumas atribuições para eliminar gargalos naquele trecho e amenizar esses problemas”, disse Paranhos.

(Foto: Divulgação)

A bateria do busão

*** Foi aberta a licitação para a compra de 15 ônibus elétricos para Cascavel. Porém, o certame, que propõe pagar um teto máximo de R$ 43,2 milhões, foi suspenso. Segundo o prefeito Paranhos, uma das potenciais concorrentes apontou uma adequação no edital, sem a qual não poderia participar.

*** O município entendeu que o pedido, relativo à bateria dos veículos, poderia ser alvo de uma adequação que permitisse mais concorrência entre as empresas.

*** “Absorvemos os apontamentos, vamos analisá-lo e publicar novamente o edital. Queremos um termo licitatório que estimule a competição, trazendo o melhor ônibus pelo melhor preço”, disse Paranhos.

Gugu da-dá…

# O deputado reeleito Gugu Bueno foi indicado pelo governador Ratinho Junior para a vice-liderança do Governo na Assembleia Legislativa. A deferência traz musculatura para Gugu pleitear a condição de prefeiturável em 2024 .

Buenocast

Entre todos os prefeituráveis, o mais animado é mesmo Edgar Bueno. Não tem recusado convites para aniversários, velórios ou casórios. No último fim de semana, ele dedicou-se pessoalmente a montar um estúdio para o Buenocast, um podcast que terá o próprio como âncora.

Bueno só não tem amassado mais barro porque a cidade está toda asfaltada, mas tem corrido a periferia para montar a chapa de candidatos à vereança. A aquisição mais recente é o ex-vereador Marcos Rios. O comunicador Sergio Ricardo, tão bom de voto quanto o Pitoco, não foi visitado ainda, por enquanto…

PENSATA

“Não caiam no conto dos clubinhos. Não comecem sendo de esquerda. Nem direita. Nem de centro, nem de alto, nem de baixo. Nada é mais importante que capacidade crítica e independência intelectual. Beba de muitas fontes. Desenvolva seu raciocínio. Aí, escolha seu grupo. Ou não”. (Rodrigo Zeidan, professor da Fundação Dom Cabral)

CRÔNICA

Extinção da espécie jornais impressos datados e as cascas douradas e inúteis das horas

Por Jairo Eduardo – editor do Pitoco

Um janeiro qualquer da década de 2060. Duas crianças, primos-irmãos, conversam em um ambiente virtual, no cenário metaverso, onde ambos podem se apresentar ali na condição de avatares.

– Primo, sabia que nosso bisavô já foi jornalista? E que escrevia um jornal chamado Pitoco?

– Sim, tô sabendo. Vi um exemplar no museu de Cascavel.

– E como funcionava isso, como era jornal nesta época? É verdade que a notícia saia impressa papel?

– Era assim: o bisavô escrevia, a bisavó Laidir, e depois dela o jornalista Heinz Schmidt, montava textos e ilustrações em uma página. Então, mandava aquilo para uma gráfica imprimir e nas sextas-feiras aparecia uma dúzia de jornaleiros lá na Souza Naves para distribuir aquele papel com notícias a pé, de bicicleta ou de motocas antigas, do tempo que se usava motor a combustão.

– Nossa! Não dá nem para imaginar como era isso, hoje nem livro no papel existe mais!

Os priminhos de 2060 são os netos de meus filhos. Se o fundador do Pitoco chegar a 2067, estará com 100 anos de idade. E poderá participar desta prosa. É possível, embora pouco provável.

Mas o jornal no papel não estará mais disponível. Restará devorado pela revolução digital, e aqueles ainda com lembranças vivas do que foi esse meio de comunicação serão equivalentes lá em 2060 aos que em nosso tempo presente se recordam da ficha e do orelhão: nostálgicos de um tempo que não volta mais.

Não há como remar contra o futuro. Talvez nem o ofício do jornalista exista mais lá na conversa dos priminhos. Afinal, pode surgir um aplicativo que, ao ouvir um relato que indique outras fontes consultáveis na internet, escreva um texto magnífico dentro de tudo que prescreve o mais exigente manual de redação.

Nos 26 anos do jornal, espero que a obsolência anunciada do impresso aguarde mais um pouco e possa desta forma adiar a aposentadoria do Pitoco. E que outros 27 de janeiro possam ser celebrados do modo analógico, com o tradicional e bom jornal impresso.

Resta fechar essa viagem ancestral com o magnífico texto de Mario Quintana, intitulado “O tempo”:

“A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo

Quando se vê, já é 6ª-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

Eu nem olhava o relógios

Seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas”.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

pitoco@pitoco.com.br

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